Vamos lá, Bahia!
As restrições infraestruturais com que a Bahia se defronta para o seu desenvolvimento tem se constituído no principal tema de discussões empresariais, com amplas repercussões políticas, administrativas, acadêmicas e na sociedade em geral.
A Bahia se deu conta de que dispõe hoje de uma matriz de infraestrutura inferior a de que fazia uso há 30 anos. É o que demonstram, por exemplo, a situação precária da antiga malha ferroviária, assim como a paralisação do funcionamento da hidrovia do rio São Francisco.
Em relação ao sistema ferroviário, Salvador era o centro de uma malha ferroviária articulada em três vetores distintos: a Linha Sul que, em Corinto (MG),fazia a ligação com o Centro-Sul do país (Belo Horizonte, São Paulo e Rio de Janeiro); a Linha Centro que, em Juazeiro, se integrava com a hidrovia do rio São Francisco e servia ao polo de fruticultura irrigada e todo o submédio São Francisco; e a Linha Norte que se dirigia ao Nordeste, chegando até Natal (RN), atendendo a seis capitais nordestinas.
Esta malha hoje está inteiramente desmantelada, o que representa um desastre de proporções nacionais, na medida em que desestruturou a ligação ferroviária do Nordeste com o Sudeste do país. No processo de renovação antecipada da Ferrovia Centro Atlântica (FCA), a Bahia está mobilizada para resgatar ao menos o trecho Salvador-Corinto, como base para o início dareconstrução dessas importantes articulaçõesferroviárias.
Paralelamente, ocorre a implantação da Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), cujos trechos I e II – Ilhéus-Caetité e Caetité-Barreiras – encontram-se em obras. Com a decisão, anunciada pelo Secretário Especial do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) do governo federal, de que a FIOL III será efetivamente redirecionada para Mara Rosa (GO), ao encontro da Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (FICO), criam-se as condições para a formação do pujante Corredor Centro-Leste, que permitirá o escoamento dos grãos do Mato Grossopelos portos do litoral baiano.
Coube ao Complexo Portuário da Baía de Todos os Santos (BTS-Port) romper a inércia que afeta a economia baiana, com a recente criação da Rota Bahia-Ásia, aportando no TECON-Salvador navios do tipo New Panamax, com 366m de comprimento e capacidade de transporte para 15.000 TEUs, assim como a ampliação, pela Acelen, da capacidade do Temadre, para receber navios do tipo Suexmax, com capacidade de transporte de 1 milhão de barris de petróleo, além da construção do terceiro berço do Terminal de Cotegipe, do grupo Dias Branco, duplicando sua capacidade, para movimentação anual de até 12 milhões de toneladas de grãos.
Ainda no BTS-Port, registrem-se os investimentos doCS Aratu (Grupo JSL) no terminal de granéis sólidos do Porto de Aratu-Candeias, da Codeba, e a expectativa pela venda do Estaleiro Enseada, com seu TUP e área industrial.
O propósito é transformar a Baía de Todos os Santos em um importante e estratégico Hub-Portpara o Atlântico Sul, assim como Chancay, no Peru, estará para o Pacífico Sul, os dois portos interligados pela Ferrovia Sulamericana, de que o Corredor Centro-Leste será parte.
Por sua vez, o Porto Sul, em Ilhéus, acaba de receber sinal verde do Fundo da Marinha Mercante, para um financiamento de R$4,59 bilhões, suficiente para viabilizar sua implantação, como ponto de ligação da FIOL com o mercado global de minérios e grãos.
Neste contexto, é exemplar a existência e atuação do Grupo Business Bahia – um coletivo empresarial que reúne mais de 250 empresários baianos –, criador do selo “Made in Bahia” e, agora, do “Summit de Negócios Made in Bahia”, a estimular e dinamizar o crescimento endógeno do nosso Estado. São movimentos como esses que fomentam a expansão da economia local, mobilizam a capacidade inovadora e empreendedora dos nossos empresários e contribuem para que a Bahia possa ser cada vez mais desenvolvida.
A Bahia tem a oportunidade e a necessidade de superar seu atual isolamento em termos de infraestrutura para se tornar um dos principais centros de distribuição e transporte do Brasil. Vamos lá, Bahia!
Waldeck Ornélas waldeck.vo@gmail.com é especialista em planejamento urbano-regional. Autor de “Cidades e Municípios: gestão e planejamento”. Foi senador, ministro da Previdência e secretário de planejamento do estado
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30/10/2024