Polarização em declínio: o que a pesquisa da Quaest revela sobre o humor do eleitor brasileiro em 2026
Com 41% dos brasileiros afirmando que deixariam o país por causa da polarização política, o cenário aponta para o esgotamento das estratégias baseadas apenas no confronto ideológico
A pesquisa “O que esperar do Brasil?”, divulgada pela Quaest Pesquisa e Consultoria Estratégica, traz um dado emblemático sobre o atual estado de ânimo do eleitor brasileiro: 41% dos entrevistados afirmam que mudariam de país se pudessem, por conta da polarização política. O resultado evidencia um desgaste crescente da narrativa de confronto que marcou os últimos ciclos eleitorais no país. O eleitor, antes movido por paixões partidárias e identitárias, demonstra cansaço com o clima de hostilidade permanente e passa a priorizar resultados concretos e estabilidade.
O estudo também mostra que o eleitorado está “afetivamente polarizado” e “socialmente calcificado”, ou seja, preso a posições políticas fixas e resistentes à mudança de opinião. Esse fenômeno cria um ambiente de menor mobilidade eleitoral, dificultando a conquista de novos eleitores e reduzindo o espaço para o debate racional. Quando a política se resume ao embate entre polos, ela deixa de dialogar com a maioria silenciosa — que não vive de extremos e que hoje representa o grupo mais numeroso e decisivo.
Para as eleições de 2026, o recado é claro: a polarização ainda mobiliza, mas não decide. O eleitorado brasileiro busca um discurso de convergência, pragmatismo e resultados. Questões como segurança pública, emprego, renda, infraestrutura e educação passam a ocupar o centro da atenção, substituindo a pauta do conflito ideológico. Os candidatos que insistirem em manter o confronto como eixo central tendem a reforçar suas bases já convencidas, mas terão dificuldades para ampliar o eleitorado.
A comunicação política precisa, portanto, reposicionar-se. A retórica de antagonismo, que funcionou como motor de engajamento em períodos anteriores, hoje tende a gerar rejeição, apatia ou desinteresse. Em contrapartida, discursos pautados em eficiência administrativa, transparência, inovação e cooperação pública e privada encontram maior receptividade entre eleitores que desejam previsibilidade e estabilidade institucional.
A principal conclusão da pesquisa é que o eleitor quer mudança de tom e de foco. Não se trata de abandonar convicções políticas, mas de apresentá-las de forma construtiva, com ênfase em resultados e impactos reais. O Brasil atravessa um momento de fadiga política, em que o discurso de guerra perde espaço para o da reconstrução.
Em 2026, o divisor de águas não será entre direita e esquerda, mas entre quem continua alimentando o conflito e quem propõe soluções para superá-lo. A próxima eleição será menos sobre identidades partidárias e mais sobre competência, diálogo e entrega de resultados. E essa talvez seja a mudança mais relevante captada pela pesquisa da Quaest — uma mudança de humor que, se bem compreendida, pode redefinir o mapa político do país.
José Américo Moreira da Silva zamerico1961@gmail.com é jornalista, publicitário, baiano radicado em Brasília
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7novembro2025