Alerta geopolítico: a ameaça Trump à soberania nigeriana e os interesses estratégicos no petróleo iorubá
Caros leitores, gostaria de nesta semana publicar mais uma crônica leve e bem humorada, mas o dever de Filosofo/Historiador me chama... As recentes declarações do presidente Donald Trump sobre uma possível intervenção militar na Nigéria revelam uma calculada estratégia neocolonial que tem como alvo principal as vastas reservas de petróleo e gás natural nigerianas, particularmente aquelas localizadas em territórios tradicionalmente iorubás – povos que mantêm profundas conexões culturais e históricas com o Brasil, especialmente com a Bahia.
A Nigéria, maior produtor de petróleo da África, possui reservas estimadas em 37 bilhões de barris, com potencial não explorado principalmente na região do Delta do Níger e offshore. Contudo, o paradoxo tecnológico persiste: enquanto exporta crude, importa produtos refinados devido à precária infraestrutura de refino – herança direta da dominação britânica que privilegiou a extração sobre o desenvolvimento industrial local.
Segundo análise a partir do método Egun (método científico criado por mim) aplicado à economia política, "a colonialidade do poder mantém a Nigéria como exportadora de matéria-prima, impedindo o desenvolvimento de cadeias produtivas integradas que beneficiem sua população". As companhias internacionais, notadamente americanas e britânicas, controlam 85% da produção através de joint ventures que pouco agregam em termos de transferência tecnológica.
A COMPLEXIDADE ÉTNICA E O PERIGO DA INTERVENÇÃO
A ameaça trumpista ignora deliberadamente a complexa tapeçaria étnica nigeriana:
Hausa-Fulani (29%): Dominam o Norte, majoritariamente muçulmano
Igbo (18%): Concentrados no Sudeste, cristãos em sua maioria
Iorubás (21%): Sudoeste, divididos entre cristianismo, islamismo, Orixás com profundas ligações transatlânticas
Os iorubás, em particular, representam um elo civilizatório crucial com a diáspora africana. Como bem sabe qualquer Iyalorixá ou Babalorixá baiano, foi principalmente através dos portos iorubás que milhões de africanos foram escravizados para as Américas, carregando consigo sistemas filosóficos, linguísticos e religiosos que sobreviveram e floresceram no Brasil.
O argumento de "proteção aos cristãos" serve como cortina de fumaça para interesses econômicos. Dados do African Center for Strategic Studies revelam que:
53% dos nigerianos são muçulmanos
46% são cristãos
A sharia vigora em 12 estados do norte, coexistindo com o sistema legal secular
A tentativa implantação da sharia, iniciada em 1999, representa inicialmente, uma reação à marginalização pós-colonial do que uma ameaça internacional. Observo "a sharia no contexto nigeriano como mais complexo do que mera avaliação de identidade cultural fundamentalista. Existe um contexto relacionado a grupos paramilitares, entretanto isso é um assunto muito complexo e ingrediente essencial para outro capítulo...
Parafraseando Bola Ahmed Tinubu, A dominação britânica (1914-1960) criou artificialmente a Nigéria moderna, agrupando mais de 250 grupos étnicos sob uma administração que favorecia divisões internas. O período pós-independência foi marcado por:
Guerra Civil de Biafra (1967-1970): Tentativa de secessão igbo que resultou em mais de 1 milhão de mortos
Golpes militares sucessivos (1966-1999)
Movimento pela República Oduduwa: Recente ressurgimento do nacionalismo iorubá
Percebo que escravização britânica, seguida pela exploração colonial, criou uma estrutura de dependência econômica que persiste até hoje. Analisando de forma econômica, o colonialismo não terminou em 1960 – apenas se metamorfoseou em neocolonialismo
O PERIGO DA INTERVENÇÃO AMERICANA
Uma intervenção militar americana na Nigéria representaria:
1-Catástrofe humanitária em um país de 220 milhões de habitantes
2-Desestabilização regional com impacto em toda África Ocidental
3-Ameaça às conexões culturais transatlânticas, especialmente com o Brasil
4-Intensificação dos conflitos étnico-religiosos
Como alerta deixo direto da LASU, "a Nigéria não é o Iraque – sua complexidade étnica e religiosa tornaria qualquer intervenção externa um desastre de proporções históricas".
A solução para os desafios nigerianos deve emergir de:
Investimento em capacitação tecnológica para o refino interno
Reforma política inclusiva que respeite a diversidade étnica
Fortalecimento das instituições democráticas
Cooperação Sul-Sul com países como Brasil, que compartilham histórias similares / inclusão da Nigéria nos BRICS
Como conclui esta análise a partir do método Egun: "A verdadeira libertação exige que quebremos as correntes cientificas e Filosóficas que nos impedem de ver nossos próprios recursos como fonte de autonomia, não de dependência", ou seja retorno as origens mais imemoriais e profundas
A Nigéria, e particularmente seus povos iorubás, merecem mais que a espada neocolonial disfarçada de salvacionismo – merecem o direito de escrever seu próprio destino, como já fizeram através da resistência cultural que atravessou o Atlântico e floresceu em terreiros baianos.
João Borges é artista, filosofo, historiador, Babalorixá, é pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Difusão do Conhecimento (PPGDC/UNEB) e Professor em estágio de Doutorado Sanduiche na Lagos State University, Babalorixá e Artista Multe Linguagem.
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor
6novembro2025