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Chico Ribeiro Neto no Colunistas: Meu avô, o relógio e o celular


Chico Ribeiro Neto é jornalista profissional

No tic-tac do coração


Meu avô Chico tinha um relógio cuco. Com 5 anos, eu ficava esperando para ver o cuco sair da casinha. Era emocionante. Ali morava o tempo.Vovô também tinha um relógio de bolso que, se não me engano, usava no bolso do colete. Ali morava a elegância. 


O relógio sempre atraiu as crianças. Era bom encostar o ouvido para ouvir o tic-tac. A gente ganhava uns reloginhos de brinquedo, como se dá hoje celular de plástico às crianças.


Seu Zé, numa cidade do interior baiano, comprou um relojão de ouro, mas não sabia ver as horas. O povo descobriu isso porque toda vez que alguém lhe perguntava as horas, ele saía pela tangente: “Moço, não tô conseguindo olhar direito, porque minha vista tá meio anuviada”. A meninada logo descobriu isso e gritava pra ele no meio da rua: “Seu Zé, que horas são?” “Vai olhar embaixo da saia de tua mãe, seu moleque”. 


Havia também essa brincadeira: “Que horas são?” “Falta um tiquinho pra daqui a pouco”.
Quando criança, eu ouvia dizer que o Big Ben era o maior relógio do mundo e que “não atrasa nunca”.
Adolescente, adorava dançar ao som de “El Reloj”, do mexicano Alberto Cantoral: “Reloj, no marques las horas/ Porque voy a enloquecer...” 


Relógio de pulso tinha que ser à prova de choque e à prova d’água. E tinha que dar corda todo dia. O relógio estava atrasando, você levava no relojoeiro e ele voltava adiantando. Relógio muito barato e que quebrava sempre era chamado de “patacho”.


Além de matar o relógio de pulso, o celular matou também o despertador, além de muitas outras coisas. Em Salvador, na década de 70, a Telebahia tinha o Serviço Despertador. Você ligava do telefone fixo e dizia a que horas queria ser acordado. A telefonista ligava no horário solicitado e também 5 minutos depois, para confirmar se você acordou mesmo. Esse serviço era cobrado extra, à parte de sua assinatura. Lembro que tive um telefone fixo alugado. Comprar uma linha era caro e todo mês eu ia na Barra entregar o cheque do aluguel do telefone. Quem hoje ainda usa telefone fixo?


“O tic tic tic tac do meu coração 


Marca o compasso do meu grande amor


Na alegria bate muito forte


E na tristeza bate fraco porque sente dor


(Trecho da música “Tic Tac do Meu Coração”, de Carmen Miranda).


Chico Ribeiro Neto chicoribe@gmail.com nasceu em Ipiaú (BA) é jornalista profissional, começou na Tribuna da Bahia. Trabalhou na sucursal da Revista Manchete em Salvador e na sucursal do Jornal do Brasil em Porto Alegre. No jornal A Tarde foi editor de Economia, chefe de Reportagem e secretário de Redação

20/11/2024

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