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José Américo no Colunistas: O tarifaço e o tiro em Bolsonaro


José Américo Moreira da Silva é jornalista, publicitário, baiano radicado em Brasília

Trump sabota o Brasil, e bolsonaristas mostram que a pátria é só discurso


Bolsonaristas dão um tiro no pé ao comemorar o tarifaço político de Donald Trump contra o Brasil. A decisão anunciada pelo ex-presidente americano, de impor uma tarifa de 50% sobre todos os produtos brasileiros, escancarou uma contradição brutal no discurso do bolsonarismo: o suposto nacionalismo soberanista foi substituído por uma subserviência ideológica que não hesita em apoiar uma medida que prejudica diretamente o povo brasileiro, a indústria nacional e o agronegócio. 


Em sua carta endereçada ao presidente Lula, Trump afirmou que as tarifas são uma retaliação ao processo que Jair Bolsonaro vem enfrentando na Justiça brasileira, classificando a situação como uma “caça às bruxas”. Com isso, o líder republicano assume abertamente que sua decisão é política, não econômica, mirando diretamente o Judiciário brasileiro e, de forma indireta, a democracia brasileira.


O impacto prático da medida é devastador. Os Estados Unidos são um dos principais destinos das exportações brasileiras, especialmente de produtos do agronegócio como carne bovina, frango, café e suco de laranja. Com a tarifa de 50%, o preço desses produtos se tornará inviável para o mercado americano, o que inevitavelmente afetará milhares de produtores rurais, industriais e trabalhadores brasileiros. 


A Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) já começaram a se movimentar para tentar conter os danos, mas a insegurança jurídica e a instabilidade diplomática causadas pelo gesto político de Trump, com apoio explícito de aliados de Bolsonaro, agravaram a situação.


O mais espantoso, no entanto, foi a reação de parte da base bolsonarista. Deputados e influenciadores do campo da extrema direita comemoraram o tarifaço como um “corretivo” contra Lula e o Supremo Tribunal Federal. Paulo Bilynskyj, Nikolas Ferreira e Bia Kicis exaltaram a atitude de Trump como se estivessem diante de um ato de justiça divina, ignorando por completo o prejuízo direto ao país. Essa postura revela que, para esse setor político, o Brasil é secundário diante de sua obsessão em salvar Bolsonaro a qualquer custo. Trata-se de uma inversão de valores que desmonta o discurso patriótico sempre bradado em campanhas eleitorais e nas redes sociais.


A comemoração da punição econômica imposta ao Brasil por uma potência estrangeira é algo inédito na história recente do país. Nunca antes se viu uma corrente política celebrar sanções que sabotam a economia nacional em nome de lealdades pessoais ou ideológicas. E isso tem consequências. O eleitor bolsonarista tradicional, especialmente aquele que trabalha no campo, que é empresário, ou que tem negócios com os Estados Unidos, começa a se dar conta de que está sendo traído por aqueles que deveriam defendê-lo. 


O bolsonarismo, que sempre buscou se apresentar como defensor da pátria e da produção nacional, agora se revela como um movimento disposto a sacrificar os interesses do povo brasileiro para proteger seu líder máximo, mesmo que isso custe empregos, renda e estabilidade econômica.
O efeito imediato da tarifa foi fortalecer politicamente o presidente Lula. Com o gesto de Trump, o governo conseguiu mobilizar setores da economia, da sociedade civil e até parte do Congresso em torno de um discurso de defesa da soberania nacional. 


O Palácio do Planalto já anunciou que prepara medidas de retaliação com base na Lei de Reciprocidade Econômica e buscará respaldo junto ao Mercosul, à OMC e a organismos multilaterais. Nesse cenário, Lula se projeta como estadista, enquanto Bolsonaro e seus aliados aparecem como cúmplices de uma agressão internacional. A narrativa de que a esquerda é “anti-Brasil” perde força diante da imagem dos bolsonaristas vibrando com uma punição imposta ao país por um governo estrangeiro.


A médio e longo prazo, esse episódio pode significar o início do fim do bolsonarismo como força política nacional. Já fragilizado pelas revelações do inquérito das milícias digitais, pelo cerco judicial a Bolsonaro e pela perda de popularidade em setores urbanos, o movimento agora implode sua base rural e empresarial. Ao apoiar uma medida que encarece produtos brasileiros e prejudica exportadores, o bolsonarismo afasta justamente os segmentos que mais contribuíram para seu crescimento eleitoral desde 2018. Não é à toa que empresários do agro já começaram a se distanciar. O discurso do “Brasil acima de tudo” vira pó diante da prática do “Trump acima do Brasil”.


O tarifaço de Trump, portanto, escancara a natureza destrutiva do bolsonarismo: um projeto político que se diz patriota, mas celebra a sabotagem ao país; que se diz liberal, mas compactua com medidas que prejudicam o livre comércio; que se diz conservador, mas age de forma irresponsável e inconsequente. Ao colocar seus interesses pessoais acima dos nacionais, o bolsonarismo se revelou incompatível com qualquer projeto de desenvolvimento soberano para o Brasil. E, ao fazê-lo diante de toda a sociedade, pode ter selado sua própria ruína. 


O povo brasileiro, que sofre com os preços, com o desemprego e com a instabilidade econômica, não vai esquecer quem aplaudiu quando os EUA decidiram apertar ainda mais o nosso pescoço. E esse esquecimento será fatal nas urnas.


José Américo Moreira da Silva zamerico1961@gmail.com é jornalista, publicitário, baiano radicado em Brasília 


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

10/julho/2025

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