O Plano Municipal de Segurança Pública de Camaçari é mais uma face do racismo estrutural
Em tese, o objetivo desse plano é reduzir os crimes e a violência a partir de ações preventivas, integradas e comunitárias, criando um ambiente de paz social, aumentando fatores de proteção e a sensação de segurança no município, tendo como meta reduzir em 25%, a cada 12 meses, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes de Camaçari até 2030.
Ocorre que, em seus objetivos específicos, o plano não aborda o desenvolvimento de políticas públicas que estejam voltadas para o combate ao extermínio de homens negros, visto que, em todo o território do município de Camaçari, esses são os mais afetados pela violência. E o perfil dessa imensa parcela da população sequer consta do relatório. É evidente que essa é mais uma face do racismo estrutural do Estado brasileiro.
Os vereadores de Camaçari precisam discutir esse tema que afeta toda a população! Camaçari embora seja um território historicamente indígena, ele é um município majoritariamente negro.
O fenótipo, ou seja, a cara do seu povo é predominantemente negra e parda. Quem de fato morre vítima da violência em Camaçari é o homem negro e pobre. Então é preciso que haja planos de ação e destinação de recursos públicos para que possamos reverter esse quadro. É obvio que é preciso combater a violência contra a mulher, mas, na verdade, quem ocupa o ranking nas estatísticas por mortes violentas em Camaçari é o homem negro. Porquê os estudos que embasavam essa constatação não foram utilizados na construção desse plano.
A quem interessa o extermínio do homem negro e pobre? Um plano como esse que se desenha está fadado ao fracasso e ao desperdício de recursos públicos.
Precisamos fazer algo para evitar o crescimento do extermínio de homens e jovens negros em Camaçari. Mas isso só será possível com a implementação de ações e políticas públicas que adotem as crianças e os jovens negros através de programas de apoio e incentivo ao desenvolvimento de talentos no esporte, na cultura e nas artes. Inclusive fomentando o desenvolvimento de talentos nas ciências em geral que oportunizem o primeiro emprego para que esses jovens não mais sejam convidados a trilhar o caminho da criminalidade que, certamente, vai desembocar em uma morte violenta engrossando ainda mais as estatísticas. Não é por acaso que, no ranking nacional, Camaçari figura como a segunda cidade mais violenta do Brasil.
Finalizo este artigo convidando todos os movimentos sociais e progressistas deste município, especialmente o movimento negro, os fazedores de cultura, os profissionais de educação, os vereadores e os canmdidatpos a prefeito para que, juntos, possamos construir um Plano Municipal de Segurança Pública que represente os interesses e tenha a cara da população.
Diego de Jesus Copque diegokopke@gmail.com é professor, historiador, pesquisador da História da Bahia, membro do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia. É autor dos livros: "Do Joanes ao Jacuípe, uma história de muitas querelas, tensões e disputas locais" e "A presença do Recôncavo Norte da Bahia na consolidação da Independência do Brasil."
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26/07/2024