Portas abertas “Eu voltei, agora pra ficar... Porque aqui, aqui é meu lugar... Eu voltei pras coisas que eu deixei... Eu voltei...” O refrão da música “O Portão”, de Roberto e Erasmo, tem sido cantarolado com mais intensidade nos últimos dias na política de Camaçari.
Portas abertas 2 Está cedo para avaliar o peso eleitoral das adesões dos elinaldistas ao grupo caetanista. Mesmo entendimento se aplica aos vira-casacas que eram tidos como oposicionistas e aderiram ao esquema governista. Com efeito mais psicológico que prático no universo da política, esse momento ´pula pula` não mostra apenas a falta de convicção desses adesistas, prática comum nas últimas décadas em Camaçari. Resultado só pode ser avaliado com a abertura das urnas em 6 de outubro.
Portas abertas 3 Diferente da maioria dos municípios brasileiros, sempre de cuia para os governos federal e estadual, Camaçari é uma cidade com receita financeira diferenciada, por isso mesmo com uma das práticas fisiológicas mais intensas. Essa equação, que de forma simples se resume a cargos e vantagens na máquina municipal, ou ligados a ela, terminou banalizando a prática política que deveria ter como pilar a coerência, a ética e o respeito ao bem público. Para conforto da maioria dos agentes políticos, esse componente da desimportância da política ganha terreno fértil numa cidade de migrantes com pouco ou nenhuma identidade com a cidade e conhecimento do histórico desses personagens e seus líderes.
Portas abertas 4 Com raríssssssssssssssimas exceções, quase todos os atuais personagens envolvidos nessa trama, edição 2024, estiveram em algum momento de um lado, romperam e migraram para a outra banda dessa disputa. E, novamente voltaram para o que negavam como se nada tivesse acontecido. Isso quando não fezem acordos de bastidores com a consequente adesão branca em troca de favores nada republicanos.
Portas abertas 5 A Coluna teria que ter uma edição extra, só com a lista dos que mudaram de lado, saíram atirando e depois voltaram, dessa vez mirando o aliado que até outro dia era o caminho certo para o futuro da cidade. Risco desse rol, de odiados até ´ontem` e ´hoje` festejados como importantes para o projeto de poder, sair desatualizado é altíssimo, tal a volatilidade dessas lideranças e seus desejos de se manter no poder.
Portas abertas 6 Infelizmente, esse processo segue imexível nesses cerca de 40 anos de movimento da política no município. Aquisição de ´passe`de lideranças vem de forma mais intensa desde os últimos anos do governo do alcaide biônico Humberto Ellery (1976/1985), quando se definiu o quadro para a disputa pelo comando da cidade através de eleições diretas em 1985 e posse no ano seguinte. Foi assim com a vitória nas eleições diretas do então emedebista, mas com coração na época batendo pelo clandestino PCdoB, Luiz Caetano, primeiro alcaide da cidade entre 1986/1988.
Portas abertas 7 Esse troca-troca que rege sem cerimônias a política em Camaçari seguiu com os sucessores José Tude (1989/1992) e Humberto Ellery (1993/1996). Prosseguiu nos dois últimos mandatos de Tude (1997/2000 e 2001/2002). Se repetiu com o substituto de parte do seu terceiro mandato, Helder Almeida, entre 2002 e 2004. Prática não foi diferente no segundo e terceiro mandatos (2005/2008 e 2009/2012) de Caetano. O sucessor Ademar Delgado (2013/2016), que depois rompeu com seu criador Caetano, seguiu a mesma cartilha. Cronologia do fisiologismo tem seu último capítulo com a eleição de Antonio Elinaldo, em 2016. No comando do município desde 2017, Elinaldo entrega o cargo em dezembro deste ano.
Portas abertas 8 Para manter esse ciclo em contraponto ao projeto de quarto mandato de Caetano, Elinaldo aposta sua pule no companheiro de legenda, o vereador Flavio Matos. Agora é aguardar para ver quem opera melhor as máquinas e vence as eleições. Um com a municipal e o outro com as engrenagens estadual e federal.
Portas abertas 9 O resultado desse processo, que caminha para se manter a partir de 2025, caso não se promova um debate profundo, está numa cidade violenta, sem um projeto consistente de inclusão da população na produção e na qualificação profissional e no ensino formal. Completa esse descompromisso dessas lideranças o total desprezo pelo sentimento de pertencimento que toda cidade precisa ter.
Portas abertas 10 Sem o planejamento do seu espaço, principalmente das áreas urbanas, necessárias para trazer mais conforto aos seus habitantes, Camaçari segue a velha fórmula do perfil conservador de polo industrial. Ao ignorar as vantagens da exploração das suas outras potencialidades espalhadas pelos seus 785 quilômetros quadrados, e sem uma política de desenvolvimento sustentável, cidade dá mais um passo para o atrelamento ao desconhecido e imprevisível futuro da lógica global.
João Leite Filho joaoleite01@gmail.com – Editor
25/03/2024 Fechamento: 15h25
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