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Matemos todos os políticos


Edson Miranda é jornalista e professor universitário

A Política sempre pressupõe o diálogo, o convívio mediado por instituições, para solucionar os conflitos inerentes às sociedades democráticas. A Guerra é exatamente o seu contrário. É o fim da mediação institucional, seu enfraquecimento ou sua morte. É quando os contendores apostam no extermínio um do outro como solução de tais conflitos.


Olhando sem paixões e com um certo distanciamento o Brasil atual, verificamos que o país se encontra nessa encruzilhada formada pela política e pela guerra. Trilhar um dos dois caminhos, nesse momento, significa apenas esperar qual lado do Dado, já jogado, cairá mostrando sua face. É isso, a Política ou a Guerra virou apenas uma questão de aposta. Quase nada os contendores atuais (as elites políticas e econômicas) podem fazer. O Dado já corta o ar e está prestes a se expor, devido à força da inércia do tabuleiro onde fora jogado. Elas, as elites, já não têm o controle do caminho e aonde pretendem aportar.


Importante frisar que esse não é um problema específico do Brasil. No nosso processo, temos nossas especificidades, mas, no geral, ele acomete um número grande de países. Os filósofos Edmund Hussel e Martin Heidegger desenvolveram ideias sobre os impactos das tecnologias nas sociedades humanas. Hussel cunhou a expressão “profunda crise da humanidade”, mas, coube a Heidegger esmiuçar as causas da crise e desenvolver o conceito de “mundo da técnica”. Para ele, o problema fundamental seria a incapacidade dos humanos decidirem sobre seu próprio destino. Este, sim, o problema a ser destacado em relação a muitos outros, também gerados pelo mundo da técnica, a exemplo da exploração desenfreada da natureza, inclusive à humana, problemas climáticos etc. Heiddeger via tal situação como uma traição das Luzes e da Modernidade que nos venderam o ideal de que, com o auxílio da Razão, Ciência e da Democracia, seríamos os senhores do nosso Futuro.


Acredito um grande sintoma atual dessa condição se expressa na máxima “isso não pode ser levado a termo, aprovado, porque assusta o mercado”. Nesse sentido, olhemos para algumas realidades: 1- O estado de penúria e de sacrifício ao qual a maioria da sociedade brasileira está sujeitada, o que a angustia em relação ao futuro e a faz enxergar com lentes aumentadas o caos social e a situação de pré anomia que vivemos.


2- As Instituições da “República” (coloco entre aspas porque, na minha modesta compreensão, a mesma ainda não se encontra instalada em solo pátrio) estão totalmente desmoralizadas, sem poder de mediação e sem a confiança da sociedade para tal.


3- Os três poderes que deveriam servir de pesos e contrapesos uns aos outros, em questões fundamentais, se unem, muitas vezes tramam, para ferrar com o povo e contrariar seus interesses e os interesses do país.


4- Os discursos de ódio, o fanatismo político e o estado de radicalização de muitas frações do Bolsonarismo e do Lulismo, principalmente, mas, não apenas delas, saem do ambiente virtual para ganharem ruas e corporeidade. Costumo afirmar que muitas das lideranças partidárias e sociais já passaram do ponto para o recrutamento pelo Estado Islâmico. Até Ciro, que não conseguiu polarizar nas últimas eleições, já fala em tomar as ruas para guerrear.


5- O total egoísmo e insensibilidade dos políticos profissionais em relação ao drama cotidiano da maioria da população que, além de já sustentar um Sistema Político bastante oneroso, é obrigada a aceitar uma gama de privilégios, a corrupção desenfreada e os avanços constantes sobre fatias cada vez maiores do erário, haja vista as tentativas, esta semana, para aumentar os fundos partidário e eleitoral em bilhões de reais, ao tempo em que pretendem diminuir a transparência sobre suas aplicações.


Um verdadeiro escárnio! Uma verdadeira crueldade! Considerando que boa parte da população continua morrendo nas filas do SUS e sem outros direitos básicos. Todos esses elementos, elencados acima, e muitos outros, a exemplo da natureza beligerante do atual mandatário, nos faz crer que estamos muito mais aptos a trilhar o caminho da Guerra do que o da Política.


A única maneira de tentarmos barrar a Guerra, onde os principais prejudicados serão os da parte de baixo da pirâmide, é exatamente incluindo o Povo no jogo da Política. Utilizando mais Democracia Substantiva e menos democracia de fachada nos cenários das Pólis. As atuais elites políticas exercitam a política como se o povo não existisse. Este é chamado apenas de quatro em quatro anos para chancelar o sistema de iniquidades.


Os mecanismos de participação popular, previstos na Constituição, consulta, plebiscito etc., há muitos anos adormecem por entre as páginas do Livro da Nação. Promessas que foram fundamentais para ganhar eleições são facilmente descartadas no curso da gestão dos vencedores.


A exemplo agora, também antes não podemos deixar de salientar, da promessa de combate à Corrupção. Vendo-se enredado na teia da Corrupção, junto com familiares, o governante de plantão, contrariando os que nele votaram, resolve abdicar de suas promessas de campanha e, agora, articula pragmaticamente com os “inimigos de outrora”, o famoso “Pacto Histórico das Elites”.


Mais uma vez, os de cima, ferrando com os de baixo, buscam, impunemente, uma saída para os seus diversos crimes. Os de agora, como também os de antes, tomados pela mais absoluta amnésia, começam a pregar a irrelevância da Corrupção na estruturação das relações de poder na sociedade brasileira.


Os de antes, agora pregam a mais absoluta primazia da Desigualdade nessas relações e, os de agora, pregam a mais absoluta primazia do “Makicismo Cultural e do Globalismo”. Como se Desigualdades e Corrupções, assim mesmo no plural, não tivessem pesos substantivos na continuidade histórica da tragédia dos oprimidos no Brasil, a maioria do nosso povo, diga-se de passagem. Sigam o chefe!!! Mais uma vez virou a máxima palavra de ordem das hordas em preparação para a Guerra. É a vida é dura! Muitos já nos avisaram, inclusive esse missivista, sobre o caráter farsante da democracia brasileira e sobre a natureza perversa do atual sistema político-eleitoral. Uma verdadeira máquina de corromper esperanças e de produzir misérias, sofrimentos e frustrações!


Sinceramente! Não vejo outra saída a não ser “matarmos todos os políticos profissionais”. Político, mandato, não pode permanecer sendo uma profissão ou uma empresa no Brasil, muitas vezes passando de pai para filho. Virou renda residual!!! (risos). Eterna! Um aviso importante! Não estou me referindo à morte física do político, já estou bastante crescidinho para ter uma certeza na minha vida: a violência não é saída para nada do que é humano! A violência é a saída dos fracos! Só nos leva à barbárie. Descartada, então. Ok?


Estou falando da morte simbólica, política. Não precisamos ameaçar ou matar de morte matada os coronéis da política. A pior morte para eles será a retirada dos seus mandatos, no jogo da Grande Política. Percebeu? Aqui para nós, tem algo pior para um político profissional do que a sua morte política? E porquê todos os políticos? Porque sempre caímos na ilusão que o político no qual votamos vai resolver ou está preparado para enfrentar os problemas da sociedade. Vai cumprir um papel importante no governo ou no parlamento. E isso, evidentemente, tem um fundo de verdade.


Temos muitos políticos bons, preparados, sinceros, comprometidos com o povo e com o país. Acontece que isso não é suficiente, como nos tem mostrado uma eleição atrás da outra. Quantas eleições mais você vai aguardar para perder todas as suas ilusões? É o sistema político e o sistema de privilégios, instalado no Brasil desde a chegada de Tomé de Souza que devemos combater e destruir.


Não podemos esperar mais os próprios políticos combaterem e destruírem ambos os sistemas, pois são beneficiários diretos deles. Muitos dos que se elegem para combatê-los, chegando lá, se acomodam. Passam a usufruir das benesses oferecidas pelo sistema. Alguns poucos, mesmo com boa vontade e empenho pessoal, não têm força suficiente para empreender tal combate por dentro do sistema político-eleitoral. Essa grande tarefa será realizada por uma esmagadora maioria de eleitores. Como? Você me pergunta. Negando o atual sistema, eu lhe respondo. Negando o sistema atual para reconstruir um novo e em outras bases. Negar o atual sistema político é uma Afirmação Revolucionária! É afirmar que estamos vivos, queremos continuar vivos, queremos também mandar e decidir.


Queremos decidir pela Política e não pela Guerra Este grito precisa ser ouvido pelos atuais políticos que desprezam a presença do povo no processo de exercício da política e de suas principais decisões. Chegamos num patamar tão alto da crise de representação no Brasil. Os políticos, que fingem representar o povo, chegaram numa situação de poder quase absoluto que precisam de um “choque antropológico” para “baixarem a bola” ou as “cristas”, como se diz no popular. Impossível!! Está sonhando, delirando! Não existe um eleitorado no Brasil com consciência suficiente para uma resposta dessa magnitude, pensa você.


A essa altura até de doido você me acusa (risos). Não tripudie tanto! Se você realmente pensa assim, sinto muito, mas, o idealista, conservador, reacionário aqui é você. Eu estou combatendo com os pés firmes na realidade. Entretanto e a favor da minha sanidade, eu lhe digo mais uma vez: quantos causas impossíveis se tornaram possíveis na história da humanidade e na nossa história. Bastou apenas começar, não foi? Lembre-se, hoje temos mais condições objetivas e subjetivas para uma empreitada desse tipo do que há décadas. Temos uma população concentrada em grandes centros, com meios de transporte e de comunicações poderosos e ao alcance dos nossos dedos, o que é muito importante. Com esses meios disponíveis, hoje temos mais chances de êxito na construção novas realidades intersubjetivas.


Novas Ordens Imaginadas podem ser construídas por pessoas de carne e osso, como eu, você, seu João, dona Maria… Basta apenas começar como o sonho de uma criança. Recheado de magias. Você ainda lembra como é? A magia um dia se transforma em realidade! Não tem sido assim ao longo das nossas vidas? Então, comece. Coloque para fora a criança mágica que insiste em sobreviver com dignidade. Comece ANULANDO SEU VOTO. Depois ajude a organizar campanhas pelo VOTO NULO. Você vai ver quanta magia pode existir nesse simples ato pacífico. A primeira magia será parar essa provável Guerra em andamento, que prejudica com mais intensidade você, eu e os nossos. Boa sorte! Sigamos com coragem!


Edson Miranda mbedson@gmail.com é jornalista, professor universitário e escreve no blog do Miranda


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

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