A conquista do tetracampeonato mundial de futebol, no 17 de julho de 1994, nos Estados Unidos não ficou marcado apenas pelo 0x0 com a Itália, com decisão nos penaltis, onde o Brasil venceu por 3x2. O retorno da equipe campeã ao Brasil foi conturbado. O avião que levou a seleção saiu do Brasil, para a disputa com 3,4 toneladas de bagagem, mas voltou dos EUA, no dia 20 de julho, com 14,4 toneladas, segundo dados da Procuradoria Federal. O caso ficou conhecido como “voo da muamba” e foi revelado pela Folha.
O lateral Branco, por exemplo, trouxe na bagagem uma cozinha completa, avaliada em US$ 18 mil. O limite legal era US$ 500 por pessoa. O então presidente da CBF, Ricardo Teixeira, comprou nos EUA equipamentos para a sua choperia, a El Turf, no Rio.
As compras de quem estava no voo da CBF chegaram pelo aeroporto internacional do Rio sem passar pelo controle da alfândega. Para isso, Teixeira pressionou os fiscais da Receita Federal. Disse que se houvesse a inspeção, os jogadores devolveriam suas medalhas e o desfile dos tetracampeões seria cancelado.
O cartola ligou para o então ministro da Casa Civil, Henrique Hargreaves, e para Rubens Ricupero, na época à frente da Fazenda. Depois do contato, as bagagens foram liberadas. O episódio culminou com o pedido de demissão de Osíris Lopes Filho, secretário da Receita Federal.
Ao ser questionado sobre o episódio, o técnico Carlos Alberto Parreira falou que o elenco estava desgastado com a viagem dos Estados Unidose tinha passado por Recife e Brasília antes de desembarcar no Rio.
"Veio uma ordem da Receita para olhar as bagagens, mas não tinha o que esconder. Falaram que tudo ficaria ali para depois ser feita a vistoria e o grupo se revoltou em ter que esperar. Além do mais os torcedores estavam invadindo o aeroporto querendo ver a seleção. Um grande tumulto", falou o ex-treinador
No mês seguinte, a CBF pagou à Receita Federal R$ 34 mil de impostos por parte da bagagem que a delegação brasileira trouxe dos Estados Unidos. A quantia é muito inferior ao prejuízo de US$ 1 milhão, valor inicialmente estimado como imposto de importação devido.
Após quitar a dívida, a assessoria da entidade informou que o valor seria debitado de cada jogador. Quem mais pagou impostos foi Branco R$ 8 mil (R$ 45.8 mil em valores atuais), seguido de Bebeto, R$ 5 mil (R$ 28.2 mil). Parreira desembolsou R$ 3.800 (R$ 21.4 mil) e Ricardo Teixeira R$ 1.040,00 (R$ 5.8 mil)
Em agosto de 2009, em ação movida pelo Ministério Público Federal, que tramitou na 22ª Vara Federal Civil do Rio, Teixeira foi condenado com base na Lei nº 8.429/92, que prevê punição para quem "mesmo não sendo agente público, induza ou concorra para a prática de ato de improbidade ou dele se beneficie sob qualquer forma direta ou indireta”.
O dirigente teve a suspensão de seus direitos políticos por três anos devido aos prejuízos causados pelos cofres públicos em razão da liberação das bagagens.