A polícia da Nicarágua invadiu e tirou do ar na noite de sexta-feira (22) o canal de TV 100% Notícias e prendeu o diretor da emissora, Miguel Mora. Essa ação contra imoprensa foi a mais recente investida do presidente Daniel Ortega contra críticos ao seu governo. O canal "100% Notícias" era o único do país que transmitia notícias 24 horas sobre a crise política que vive a Nicarágua desde abril.
Nos 8 meses de conflito gerados pelos protestos contra o governo, pelo menos 322 pessoas morreram e mais de 500 estão presas, segundo o Centro Nicaraguense de Direitos Humanos, uma das ONGs na lista negra do governo.
O diretor da emissora, Miguel Mora, estava refugiado na estação há 3 semanas por ameaças que vinha recebendo. "Podem me fazer tudo, prender-me, me fazerem desaparecer, mas aqui estaremos até as últimas consequências", disse Mora na quinta-feira (20) durante entrevista à agência de notícias Reuters.
Mora é acusado pela fiscalização do governo de incitação ao ódio e outros crimes. A polícia impediu o acesso aos escritórios do canal de TV durante a invasão, disse uma testemunha da Reuters. No fim de novembro, o regulador local ordenou às empresas operadores de TV por satélite que retirassem de sua grade o sinal do canal.
O 100% Notícias foi tirado do ar durante seis dias, quando estourou a crise em abril. Mora denunciou diversas vezes em seu programa que membros do governo pediam que ele mudasse sua linha editorial ou que enfrentasse as consequências. A chefe de informação da estação, Lucía Pineda, que também foi presa, conseguiu transmitir ao vivo enquanto a polícia entrava nas instalações até que apagaram as câmeras de segurança e desconectaram o canal.
Mauricio Madrigal, chefe de informação do Canal 10, que transmite o noticiário Acción 10, disse por telefone que este canal, o Canal 9 e o Canal 11, também foram retirados do sinal da maior empresa de cabo do país. Na semana passada, a polícia nicaraguense confiscou os escritórios do jornalista Carlos Fernando Chamorro, assim como de uma dezena de ONGs que haviam sido desabilitadas sob acusações de receber dinheiro para financiar um golpe de Estado.
Desde abril, milhares de pessoas saíram às ruas do país centro-americano para exigir a renúncia de Ortega, a quem acusam de comandar uma ditadura familiar. O governo expulsou na quarta-feira duas missões da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) dedicadas a investigar a violência nos protestos do país.