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Fernando Alcoforado


Futuro sombrio para o Brasil no combate ao coronavírus



Muitos governantes no mundo consideram o combate ao Coronavirus como uma guerra contra um inimigo invisível. A condição indispensável para uma nação vencer a guerra é estar unida contra o inimigo comum, o Corinavirus. No Brasil, esta condição não é respeitada porque quem deveria comandar a luta contra o Coronavirus, o Presidente da República Jair Bolsonaro, está se opondo a ela ao desrespeitar sistematicamente todas as medidas restritivas à aglomeração de pessoas sob o pretexto de que é preciso salvar, também, a economia brasileira da debacle. 


Em sua ação para comprometer a luta contra o Coronavirus, Bolsonaro afirma que as pessoas devem voltar ao trabalho porque a Cloroquina cura a doença que não está comprovado pela OMS- Organização Mundial de Saúde e pelos cientistas em todo o mundo. O fato de Bolsonaro assumir esta atitude está incentivando um grande número de pessoas a deixarem o isolamento em que se encontram e voltarem para a rua como já está ocorrendo em várias cidades do Brasil. O fim do isolamento social de muita gente está relacionada, também com o fato de precisarem trabalhar para sobreviver haja vista que o governo Bolsonaro não oferece para todos os brasileiros as condições necessárias à sua sobrevivência.


Além de atuar no sentido de destruir o esforço de governadores e prefeitos para combatero Coronavirus, o governo Bolsonaro não age com a urgência necessária no plano econômico com o uso dos recursos financeiros que dispõe para ajudar as populações vulneráveis a combater a fome, as empresas em geral para não serem levadas à falência e os estados e prefeituras municipais para evitarem sua insolvência. Todas as iniciativas econômicas adotadas até o momento partiram do Congresso Nacional. O Brasil precisa urgentemente de alinhamento estratégico nas ações de saúde com as de natureza econômica, de forma a viabilizar o isolamento das pessoas para combater o Coronavirus.


O isolamento social total só deve ser substituído pelo isolamento parcial, como sugere Bolsonaro, em uma segunda etapa após a qual voltaria tudo à normalidade em uma terceira etapa. Este processo deve ser implementado com base em dados que indiquem a tendência de queda no número de contaminados e de mortos pelo Coronavirus. Na medida em que esses números regredirem, as áreas menos afetadas deveriam passar para o isolamento parcial seguido da liberação total. Na terceira etapa, para reativar a economia brasileira, deveria ocorrer investimentos públicos maciços em obras públicas e investimentos privados facilitados pelo governo com a redução de juros bancários e da carga tributária. Este deveria ser o processo racional que faria com que saúde e economia fossem compatibilizadas. É imperiosa ainda a necessidade do isolamento social total para não colapsar o sistema de saúde do Brasil.


Pelo menos 2,8 bilhões de pessoas -- o que representa mais de um terço da população mundial -- vivem atualmente sob algum tipo de restrição de circulação para conter o rápido avanço da Covid-19, doença provocada pelo novo Coronavírus (Sars-Cov-2), aponta um balanço da agência France Presse (AFP). Num momento em que a pandemia se acelera em uma taxa exponencial, a OMS defende o isolamento físico das pessoas, apesar de seu custo social e econômico significativo. Sem ação agressiva em todos os países, milhões poderão morrer, declarou o diretor-geral da organização, Tedros Ghebreyesus. As regras de isolamento social, que variam de país para país, têm por objetivo diminuir o tempo de transmissão do vírus de pessoa a pessoa, dando aos governos tempo para equipar e fortalecer seus sistemas de saúde com equipamentos, expansão de
leitos, construção de hospitais e contratação de profissionais de saúde e, sobretudo, evitar o colapso dos sistemas de saúde como ocorreu na Itália e na Espanha e pode ocorrer nos

Estados Unidos. Os países que adotaram o isolamento social são os seguintes: China, Coreia do Sul, Taiwan, Estados Unidos, Singapura, Hong Kong, França, Alemanha, Itália, Índia, Reino Unido, Espanha, Brasil, Chile, Argentina e Peru. Em geral, o modelo de restrição depende do grau de disseminação da doença, do contexto político e do alinhamento com as recomendações da OMS. Costuma começar com limitações de aglomerações, suspensão de aulas, avança com restrições na circulação e, nos casos mais extremos, prevê até toque de
recolher e multa a quem sair de casa.


A atitude de Bolsonaro em oposição à política de isolamento social total adotada na
grande maioria dos países do mundo e contra a vontade de 76% da população brasileira favorável a esta medida em pesquisa Data Folha recente, não colabora no sentido de vencer o inimigo comum do povo brasileiro que é o Coronavirus. O combate ao Corionavirus deveria ser comandado por Bolsonaro, como Presidente da República, que, pelo contrário, sabota todas as ações necessárias. Na prática, o verdadeiro comandante na guerra contra o Coronavirus deveria seguir os ensinamentos de Sun Tzu, grande estrategista militar, que em sua obra A Arte da Guerra afirma que: 1) Um líder lidera pelo exemplo, não pela força. Este não é o caso de Bolsonaro porque ele não dá o exemplo ao se expor em público e as pessoas que contata, além de querer impor pela força sua vontade de acabar com o isolamento social total através de decreto que é impedida pelo Congresso
Nacional e pelo Poder Judiciário; e, 2) O governante esclarecido estabelece planos a seguir, e o bom general cultiva seus recursos. Este não é o caso de Bolsonaro que, como governante, não estabelece planos para combater o Coronavirus e, pelo contrário, atua para torpedear os planos do Ministério da Saúde e dos governadores e prefeitos.


No artigo “How and when will this pandemic end? (Como e quando essa pandemia 
terminará?), publicado no website https://www.weforum.org/agenda/2020/04/how-and-when-will-this-pandemic-end-we-asked-a-virologist/>, o virologista belga Guido Vanham, ex-chefe de virologia do Instituto de Medicina Tropical de Antuérpia, na Bélgica respondeu às perguntas seguintes: como essa pandemia terminará? E de quais fatores isso pode depender? Neste artigo consta sinteticamente o seguinte:



1) Provavelmente  nunca terminará, no sentido de que este vírus está claramente aqui parapermanecer, a menos que o erradiquemos. E a única maneira de erradicar esse vírus seria com uma vacina muito eficaz que seja entregue a todo ser humano. Fizemos isso com a varíola, mas esse é o único exemplo - e isso levou muitos anos. Portanto, provavelmente ficará. Pertence a uma família de vírus que conhecemos - os coronavírus - e uma das perguntas agora é se ele se comportará como os outros vírus.


2) Sabemos que as pessoas desenvolvem anticorpos. Isso foi claramente demonstrado na China, mas ainda não temos certeza de quão protetores são esses anticorpos. Ainda não há evidências convincentes de que as pessoas que se recuperaram voltem a adoecer após alguns dias ou semanas - então, provavelmente, os anticorpos são pelo menos parcialmente protetores. Mas quanto tempo durará essa proteção - é uma questão de meses
ou anos? A epidemiologia no futuro dependerá disso - do nível de imunidade protetora que você obtém no nível da população após essa onda de infecções, que realmente não podemos parar. Podemos mitigá-lo, podemos achatar a curva, mas não podemos realmente pará-la, porque em algum momento teremos que sair de nossas casas novamente e ir trabalhar e estudar. Ninguém sabe realmente quando isso será.


3) Quais são alguns dos fatores em jogo? O que sabemos e o que não sabemos? A primeira coisa que sabemos é que é um vírus muito infeccioso. Mas o que não se sabe é a dose 3 infecciosa  - quantos vírus você precisa para produzir uma infecção - e isso será muito difícil de saber, a menos que realizemos infecções experimentais. O vírus seguirá seu curso e haverá um certo nível de imunidade - mas a resposta quanto tempo durará determinará a periodicidade e a amplitude das epidemias que estão por vir. A menos, é claro, que encontremos uma maneira de bloqueá-lo em um ano ou mais a partir de agora com uma vacina eficaz.


Sobre vacina contra o Coronavirus, pesquisadores dos Estados Unidos e da Alemanha estão na frente nessa corrida e com cerca de 20 grupos dedicados a encontrar uma imunização contra a doença. A China desenvolveu seu primeiro protótipo e o Ministério de Defesa anunciou que o país está pronto para iniciar os ensaios clínicos em seres humanos. Voluntários entre 18 e 60 anos estão sendo chamados para testar a vacina. Os Estados Unidos, que iniciaram a primeira fase dos seus ensaios clínicos um dia antes do anúncio chinês, também perseguem uma solução rápida, eficaz e segura. O problema da vacina, porém, não termina com a descoberta. É necessário produzi-la em larga escala e distribui-la para milhões de pessoas. Nenhum governo acredita que isso pode acontecer em menos de doze meses.


Outra notícia promissora vem do Japão, onde um medicamento chamado favipiravir, também conhecido por Avigan, foi recomendado por autoridades sanitárias chinesas porque acelera a recuperação de infectados. Aqueles que receberam o favipiravir ficaram negativos para o vírus depois de uma média de quatro dias após se tornarem positivos, enquanto os que não usaram a droga precisaram de uma média de onze dias para se recuperar. 


Outros medicamentos, cloroquina e hidroxicloroquina, drogas que regulam o sistema imunológico diante de infecções, são considerados prejudiciais à saúde no tratamento do Coronavirus segundo opinião de gabaritados professores da Universidade Oxford e da Universidade Birmingham. O amplo uso da hidroxicloroquina expõe alguns pacientes a danos raros, mas potencialmente fatais, incluindo reações adversas cutâneas graves, insuficiência hepática fulminante e arritmias ventriculares (principalmente quando prescritas com azitromicina), afirma o artigo assinado pelo professor Robin Ferner, do Instituto de Ciências Clínicas da Universidade de Birmingham, e Jeffrey Aronson, do departamento de Ciências da Saúde da Universidade de Oxford, no Reino Unido. 


Vacinas e remédios podem ser o antídoto para a pandemia. Mas isso não virá tão cedo e o que nos resta, por enquanto, se quisermos colaborar com a sociedade, é o isolamento social total. Neste momento, condutas individuais podem ser mais importantes para conter a peste do que ações do governo.
Pelo exposto, pode-se concluir que o isolamento social total é absolutamente necessário no momento no Brasil, que a cloroquina ainda não está comprovada como medicamento capaz de vencer o Coronavirus, que não há vacina capaz de prevenir as pessoas da doença e que o Brasil não vencerá a guerra contra o vírus se prevalecer a vontade de Bolsonaro.
O futuro do Brasil se vislumbra sombrio com o aumento de pessoas infectadas pelo
Coronavirus e mortes de pessoas por qualquer tipo de doença e pelo próprio Coronavirus que não serão atendidas devido ao colapso do sistema de saúde brasileiro.


Fernando Alcoforado falcoforado@uol.com.br  atuou por mais de 50 anos em empresas do setor elétrico do Brasil e foi Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico e autor de livros


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor


 
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