Partidos em desalinho
Partidos desprovidos de uma linha programática consistente e arranjos na cooptação de apoios na política do dia a dia e em períodos eleitorais mostram que o pluripartidarismo sem limites pode aos olhos da sociedade fazer muito mal à democracia no Brasil. As articulações no Congresso Nacional que recaem em negociações consideradas prejudiciais às camadas sociais em geral, ou em moedas de troca afrontosas, reforçam a insatisfação com a forma como se organizam as representações dos segmentos societários bastante distanciadas das necessidades daqueles que as elegem.
São 29 legendas registradas no TSE. Boa parte grande desconhecidas da população devido as regras para fazerem jus ao Fundo partidário e ao tempo em rádio e TV. As legendas que teriam referencial em caciques como Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, João Goulart e Leonel Brizola perderam-se no tempo expurgadas da memória coletiva. Umas fundiram-se, outras embora continuem existindo já não representam no conjunto da federação o legado ideológico dos seus principais articuladores de esquerda, centro-esquerda e progressista.
O Partido Trabalhista Brasileiro (PTBTM), o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Partido Democrático Trabalhista (PDT) no processo de alinhamento com outras siglas perderam popularidade e essência com a morte de seus fundadores ou em desdobramento das suas siglas em outras (Ex-PPS, Cidadania, PRTB etc).
Sem uma divisão mais igualitária de recursos destinados aos partidos e do tempo da propaganda eleitoral, ganham em barganhas os partidos mais bem aquinhoados que incham em representação ao definir projetos votados e comissões dentro do Congresso.
Bandeiras como separar a política da religião defendida ferrenhamente por Brizola e de seletividade no apoio político já não são as do PDT atual que faz alianças nas eleições ao bel-prazer de acordo com o grupo que detenha a legenda em municípios. Composições à direita que fariam por certo corar o velho cacique.
A tão reclamada reforma política reivindicada por alguns partidos, não emanada da sociedade, não resolve a questão da falta de real representatividade das agremiações. O grande vilão e foco do questionamento apontados por eles seria o pluripartidarismo já usado como pretexto e justificativa pelas grandes legendas para se livrar de alguns pequenos partidos como PV, PCB, PSTU e PCdoB. Uma seleção ideológica que nunca vingou desde a retomada democrática após Ditadura Militar de apenas dois partidos sob seu controle.
O pluripartidarismo não é responsável pelo toma lá dá cá escancarado instalado no Congresso que engorda as emendas parlamentares resulta da falta de compromisso com os interesses mais gerais, hoje focado inteiramente em defender interesses do chamado bloco do centrão ligado ao forte poder econômico que capitaneou o PL de Valdemar Costa Neto, parte não progressista e bolsonarista do União Brasil, ambos vindos das antigas siglas UDN, Arena e DEM, parte do MDB que nada tem a ver com o PMDB autêntico (também desdobrado depois em PSDB e PSB) e o Republicanos além de pequenas siglas coadjuvantes de aluguel mantidas sob seus mantos de proteção.
Neste contexto é vitorioso o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Partido dos Trabalhadores - PT) que consegue aprovar com muito jogo de cintura e negociações a Reforma Tributária, e já tem discutida a Reforma da Renda com a economia em franca recuperação e aplicação de recursos nos estados.
Angélica Ferraz de Menezes menezesangelicaferraz@gmail.com é jornalista, coordenou pelo Centro de Educação Ambiental São Bartolomeu (CEASB) o Projeto Alvorada na microrregião de Barra/São Francisco; coordenou os cursos de Meio Ambiente, Combate à Violencia/ Direitos Humanos e de Gestão Social do Centro de Formação Comunitária do Governo Federal na área do São Francisco; foi coordenadora do Projeto Memória Kirimurê da Oscip Centro de Pesquisas e Ações Socioambientais Kirimurê
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17/07/2024