Os relatos históricos descrevem episódios que permitem afirmar que a Princesa Isabel assinou a Lei Aurea por definição de um processo em curso que não só tinham como participantes os negros alforriados, mas, também, intelectuais e ativistas abolicionistas da época. Objeto da luta, antes se edificou a Lei do Ventre Livre, Libertação por idade e alguns casos de compra junto aos patrões com recursos originários de contribuições de adeptos da concepção antiescravagistas.
Mesmo assim os termos da Lei Áurea não aboliram a escravidão da estrutura central da economia. Manteve questões em relação ao direito de expressão do povo escravizado ou alforriado, assim como restrições a títulos e condecorações, atividades e convivência social.
Neste contexto, no 13 de maio de 1888, muitos negros celebraram a tão sonhada liberdade, cantando e dançando pelas ruas, praças e senzalas de todo o País.
Na cidade de Santo Amaro, Bahia, anualmente, há 133 anos, os adeptos e simpatizantes da causa e da cultura originária passaram a ocupar a Praça do Mercado (antes Praça do Xaréu) para reafirmar e manter viva a luta pela intolerância religiosa, o preconceito, a desigualdade, a preservação de direitos e manifestações racistas que até os dias atuais se mantêm em alguns setores da sociedade brasileira.
As primeiras manifestações em Santo Amaro se deu sob a liderança do Pai de Santo João Obá, um africano de origem malê já alforriado, que ocupou as ruas centrais com atabaques, flores, frutas sob um barracão de palha onde se dançou e cantou em reverência aos orixás por três dias seguidos – antes que uma grande oferenda coletiva fosse entregue no mar como agradecimento às deusas.
Desde então, no mesmo local, um grande candomblé se forma todos os anos para reunir filhos de santo de diferentes casas religiosas da região, além do povo preto e seus descendentes de diversas cidades do Recôncavo baiano, do Brasil e do mundo, aqueles que reverenciam a cultura matricial e a liberdade.
O Bembé, denominação do candomblé, inicialmente denominado de Festa dos Negros, posteriormente Candomblé da Liberdade, O Bambé é uma manifestação de resistência, fé, referência aos ancestrais na figura dos momentos de religiosidade e obrigação destinada às divindades das Águas. Todos os ritos tradicionais do Candomblé são realizados em cerimônias específicas nos três dias de festa: Primeiro, o Padê de Exu e o Orô de Iemanjá e Oxum. No segundo dia, o Xirê é realizado em plena Praça do Mercado e, por fim, a entrega das oferendas.
Os Negros não guardam expectativas que um dia a Europa possa reparar os danos físicos e moral que causaram ao povo de matriz africana escravizados por determinação de aventuras e conquistas de terra em continentes americanos.
Tão pouco que os Estados Unidos da América venham a compensar os males cometidos aos indígenas e aos afro-americanos. Mas, reconhecer as contribuições que receberam, as riquezas produzidas que poderão ser traduzidas em respeito aos bens culturais a sua livre manifestação. Que DEUS e os Orixás nos protejam.
Adelmo Borges Adelmobs@terra.com.br
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