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Violência, mentiras e religião


Raimundo Lima é diácono da Igreja Católica, liderança comunitária e religiosa e ex-coordenador do Orçamento Participativo

Amigos e amigas!


Duas tragédias numa mesma semana. Uma com proporções de bastante apelo emocional, a tragédia, de Saudades, em Santa Catarina. Um jovem que invade uma creche e assassina três crianças menores de dois anos, e outras duas jovens servidoras da creche. Ele mesmo com 18 anos atentou contra a própria vida.


Uma tragédia de proporção gigante, pela forma como se deu, muito mais que isso pela localidade, uma cidade pacata do interior, executada por um jovem até então sem nenhuma manifestação psicológica que levantasse nenhuma suspeita.


Pois bem! Minha gente até onde os distúrbios mentais pode levar uma pessoa a tamanha atrocidade? Difícil saber, difícil prever. Difícil perceber no seio da família, no ambiente de trabalho, o que de fato se passa na mente de uma pessoa através de atitudes ditas "normais".


É mais comum do que se parece esse fato ele se revela nos suicídios de cada dia; e cada vez mais próximo de nós! em pessoas "normais"! Aos nossos olhos. O que fazer diante de fatos tão imprevisíveis? Eis uma pergunta de difícil resposta.

A outra tragédia, não é nova, não é novidade nenhuma é do cotidiano; em grande proporção como esta, ou nas pequenas proporções do dia a dia das nossas periferias. Aconteceu na favela do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. Vinte e cinco seres humanos perderam aí suas vidas. Mas o saldo da tragédia é muito maior. Famílias que tiveram suas casas invadidas, pessoas mortas dentro de seus domicílios, na presença e até no quarto de crianças que irão ter suas vidas marcadas para sempre.

Pessoas atingidas dentro do metrô, enfim será para esta comunidade uma marca terrível no local e na alma dos ali moradores. Quem chora esses mortos, além de seus familiares?

O mais grave de tudo isso é a manchete dos jornais, morreram um policial e 24 suspeitos, também se tivessem morrido dentro do metrô seriam suspeitos? Ou eram aqueles que estavam na hora errada no momento errado.

Estar e morar em nossas periferias, sejam do Rio de Janeiro, de Salvador, de Camaçari, seja o Itaipú de Monte Gordo. Será nas batidas policiais do cotidiano, ou suspeitos ou no mínimo estarão no local e na hora errada. A suspeita recai sobre o lugar onde se está. Ali, todos ou uma boa parte dos que vivem nessas comunidades não tem nomes, são suspeitos.

O que tem em comum estes dois fatos? "Nada talvez"! Mas como pode ser suspeito? Um jovem trabalhador de uma boa família de uma cidade pacata do interior? Não tem como prever uma suspeição, isso não paira sobre ele, da mesma forma que como pode serem suspeitos moradores de bairros "ditos" nobres das grandes cidades? nenhuma suspeita paira aí. Nem poderia afinal...

É isso o que está encrostado no inconscientemente das pessoas "ditas normais" numa sociedade doente. E isso está não somente referendado pelo Estado, ao contrário disso é política de segurança, de inteligência, vide o que disse o atual governador do Rio de Janeiro, tudo "normal". Feito no mais absoluto planejamento.

A ausência do Estado, na promoção de políticas públicas tais como: Educação, saúde, lazer, cultura,entre outros. Deixa nas periferias e favelas nosso povo  vulnerável a violência. E  se faz indutor de violência e mortes por um modelo de política de segurança que não promove a justiça; da investigação correta, a prisão, o julgamento e punição justa no combate aos crimes.

Como poderemos dormir de consciência tranquila diante de tamanhas barbaridades? Como nossos políticos defensores da família, de Deus acima de todos, se tornam deuses da vida e da morte. Que tipo de cristãos e cristãs nossas igrejas estão moldando para os nossos tempos? Que tipo de cidadãos, cidadãs nossa sociedade está produzindo?

São como esse governador do Rio? dito cantor católico praticamente. Me envergonha suas declarações. Me envergonha um "ser" assim. Me envergonha e deveria envergonhar aos cristãos, cristãos assim.

O sangue de muitos que aí morreram mancharão para sempre, não somente as mãos dos executores, mas, principalmente das autoridades, desprovidas de qualquer compaixão, de qualquer empatia. Afinal, para eles serão apenas mais alguns ´CPFs cancelados`. "Todas vidas importam, vidas dos moradores das periferias importam".


Raimundo Lima raisalima@hotmail.com é diácono da Igreja Católica, liderança comunitária e religiosa de Monte Gordo, Camaçari, e ex-coordenador do Orçamento Participativo de Camaçari.


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

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