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Edson Miranda


O Encarceramento da vida na hipocrisia da política eleitoral



Parte 1


Estava escrevendo este texto na linha do que venho fazendo atualmente, textos mais longos e analíticos, porém diante do avançar de determinados acontecimentos, me refiro principalmente ao atentado de semana passada contra o candidato Jair Bolsonaro, o que, na minha compreensão, poderá desdobrar em consequências e novos acontecimentos, de curto e médio prazos, ainda imprevisíveis, resolvi divulgar a parte inicial já escrita e, posteriormente, publicar o complemento do artigo.


A disputa eleitoral no Brasil segue seu denso roteiro de imposturas. Compõem-no desde as formas travestidas de (re) apresentação dos candidatos, ditadas pelo puro marketing de varejo, objetivando, no caso, mostrar qualidades que, de verdade, o produto não às contém. E assim, busca-se evitar, de cara, a temida rejeição por parte do eleitor. O que certamente aconteceria se não fosse o disfarce. Neste caso é o velho ditado popular “quem quer pegar galinha não grita xô” elevado à condição de tática eleitoral dissimulatória.


As alianças desprovidas de natureza programática são outro componente importante desse palco da desfaçatez. Isto porque, normalmente, alicerçadas com o claro propósito de capturar boa parte do dinheiro dos fundos eleitoral e partidário e, principalmente, abocanhar valiosos minutos e até segundos da propaganda no rádio e na televisão, sem os quais dificilmente a tática eleitoral dissimulatória se realiza.


Não esqueçamos que uma grande mentira deve ser bem contada e, ainda por cima, requer tempo para sua perfeita assimilação.


Poderia aqui enumerar mais um rosário de vigarices, porém para não deixar o texto tão longo, vou ao supra-sumo de todas as imposturas: a guerrilha de fakes, noticiosos ou não, que empanturram o cotidiano das redes sociais, promovidas por robôs ou caricatos ativistas políticos.


São mensagens, na maioria das vezes, desapetrechadas de sentido emancipatório, promotoras de ódio e confusão. Dessa maneira mais parece a disputa de um território, já arrasado, por gangues de bandidos do que a disputa de ideias e projetos que estarão norteando uma próxima Presidência da República.


Será que alguém em sã consciência realmente acredita que desse embornal de mentiras, imposturas e descomposturas sairá, de fato, um projeto exequível de nação? Ou que nas suas tramas, principalmente no campo do que foge ao controle do cálculo humano e é domínio do caos e do acaso, está a se plasmar a maior de todas as tragédias, a mãe de todas as outras que cotidianamente vivenciamos?


Os mais de 60 mil assassinatos por ano no Brasil; a morte de parte da nossa biodiversidade no Rio Doce e em Mariana; a morte de grande parte do nosso passado e também do nosso futuro nas labaredas do Museu Nacional; essa outra grande morte da Política com “P” maiúsculo, orquestrada na mesquinhez da atual política com “p” minúsculo, nos obriga a reaprender a olhar e, certamente, enxergar, nessas inúmeras tragédias, índices semióticos de que algo de pior ainda possa estar por vir.


Na segunda parte deste texto tentarei aprofundar mais sobre as crenças que estão por trás dessa crise atual dos conceitos de verdade e de realidade e a importância de uma reflexão que aponte para uma espécie de “virada ontológica” na forma e no conteúdo do nosso pensamento, consequentemente na nossa intervenção Política.


Tentarei mostrar também a necessidade de um Pensamento de Esquerda abandonar urgentemente esse palco de imposturas para o qual historicamente é atraído.


Edson Miranda mbedson@gmail.com é jornalista, professor universitário e escreve no blog do Miranda


 
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