Desde minha infância via a Igreja Católica com um grande poder nos Governos. Padres, Bispos e até Cardeais, sendo eleitos para vagas na Câmara de deputados, Senado, Assembleias Estaduais, Câmara de Vereadores e até Prefeitos. A presença de Sacerdotes Católicos em inaugurações de grandes obras era obrigatória.
Anos depois, a laicidade do Estado sendo consagrada em nossa Constituição, e mudanças havidas no Vaticano, foram os clérigos excluídos das disputas eleitorais. Com esta ausência, o aborto e o divórcio, temas que sofriam tremenda pressão da Igreja Católica visando impossibilitar sua viabilidade, foram finalmente aprovados pelo Congresso.
Surge então os Pentecostais e capitaneados pelo auto-intitulado "Bispo" Macedo, fundando um partido e a Bíblia tornando-se forte cabo eleitoral foi possível formar-se a "bancada evangélica".
Assistimos também um Bispo evangélico alçado a Ministro da Pesca, embora confessasse nada entender sobre o assunto, não tendo nunca pescado uma piaba. Depois vimos o mesmo Bispo eleito Prefeito de uma grande metrópole como o Rio de Janeiro, onde pode provar sua incompetência como gestor e como político.
Como não bastasse assistimos o atual Presidente colocando para assessorá-lo maciçamente Evangélicos no primeiro e segundo escalões do Governo e ainda perguntar: " - Por que não indicar para a próxima vaga no STF um evangélico ?".
Então não se faz mais necessário "notável saber Jurídico" ? Basta ser evangélico para ocupar uma cadeira na nossa mais Alta Corte?
Infelizmente temos assistido perplexos, Presidentes fazendo indicações de apadrinhados, em detrimento a conceituados e eminentes juristas.
Lembro a meus irmãos das religiões de Matrizes Africanas, tivéssemos juízes evangélicos neste Tribunal, e estaríamos proibidos de exercer nossa religiosidade com a liberdade assegurada em nossa Constituição. Na matéria sobre o sacrifício de animais teríamos sido vencidos, sendo a matança só permitida para abastecer frigoríficos e açougues.
Quero alertar o Povo de Santo e Kardecistas da importância em sabermos a religião dos candidatos a cargos eletivos, pois sabemos todos que os evangélicos se julgam "o povo de Deus", como se o Criador tivesse escolhido para si uma facção da humanidade. Estranho esse Deus que escolhe entre seus filhos um "favorito". O Deus dos protestantes tem seu povo e um "reino de glória" criado só para eles.
Mais que isso , os evangélicos demonstram absoluta intolerância religiosa em suas práticas ao invadirem terreiros e em suas pregações quando nos demonizam, diuturnamente em seus Templos, Rádio e Televisão, e até nas ruas e mercados quando percebem pelo nosso vestuário sermos Candomblecistas ou Umbandistas.
Ao imaginarem serem os únicos merecedores do "Reino de Deus" se sentem com o direito de discriminar todas as outras religiões. O discurso destes candidatos de que governará para todos, de todas as crenças, é uma falácia.
Afirmo isso baseado na ação do atual Prefeito de Camaçari, que ainda em plena campanha eleitoral estando a 100 metros do nosso Terreiro, foi convidado por um também candidato a vereador a nos fazer uma visita, aqui não veio, antes nem depois.
Estamos localizados a 100 metros de onde acaba o asfalto e nosso trecho de rua não foi asfaltado, e a camada asfáltica chegou até a porta de uma igreja evangélica e parou, não fomos agraciados por esta melhoria.
Nosso Terreiro de Jauá, foi o primeiro a ser tombado IPAC e além de ser um Templo religioso, é também um centro cultural, e como "Ponto de Cultura, desenvolveu diversas ações assistenciais. Com o apoio de governos anteriores fizemos uma Feira de Saúde, onde foi descoberto o enorme índice "Anemia Falciforme" em nosso Município, graças a Dra. Efigênia, na época secretaria da saúde Municipal.
Tínhamos cursos profissionalizantes de costura, bordados e artesanato além de reforço escolar, distribuição de alimentos para a comunidade do entorno, independentemente de sua fé ou crença.
Infelizmente hoje temos que prestar atenção e ver a qual crença pertence o nosso candidato, pois até os possivelmente ateus não se posicionam de forma tão adversária como os evangélicos.
A intolerância religiosa é o pilar central dos Pentecostais, o noticiário é repleto de narrativas em todos os recantos de nosso País. Atentem para não colocar a chibata nas
mãos de nossos algozes.
Aproveito este espaço, isento, neutro, para lembra-los que as fogueias da Inquisição eram acesas em nome de Jesus e de Deus.
Laércio Messias do Sacramento lipercio@hotmail.com é sacerdote Tata dya Nkisi do Terreiro de Jauá, Camaçari
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