Escombros A demolição do imóvel que abrigou a antiga prefeitura, a Câmara de Vereadores e outras estruturas do poder, no último domingo (9), apenas exibiu de forma bruta, em especial nas redes sociais, uma ferida que estava exposta, aumentava, contaminava, mas que Camaçari se recusava a cuidar.
Escombros 2 Muito mais que passagem obrigatória de boa parte da cidade, o conjunto do centro histórico, ou centro antigo da cidade, hoje formado pelos escombros do velho casarão, do antigo cinema e da estação de trens, nunca foi visto pelos gestores da cidade como sendo uma obra necessária. Na verdade, sequer discutiram a necessidade do resgate e preservação do que ainda resta da memória de uma Camaçari que avança para o futuro de forma perigosa quando apaga o seu passado.
Escombros 3 Mais preocupados com as avenidas, escolas, praças e demais obras importantes, mas com dividendos eleitorais imediatos e outros etc, alcaides esqueceram a história do município, como se o desenvolvimento da outrora apenas crescente cidade sede do polo petroquímico não precisasse de seu passado, inclusive para entender e tornar seu futuro melhor.
Escombros 4 Nessa linha do tempo merecem destaque os ex-prefeitos José Tude (1989/1992- 1997/2002), que ao projetar e construir o novo centro administrativo, esqueceu de preservar parte da antiga prefeitura construída em madeira, como fez Juscelino Kubitschek com a manutenção do Catetinho, 1ª residência oficial do presidente no novo Distrito Federal.
Escombros 5 Esse descuido começa com as gestões Humberto Ellery, prefeito biônico entre 1974 a 1985, e eleito (1993/1996). Lista que segue com Helder Almeida, Luiz Caetano e Ademar Delgado, é filha da ausência de uma política educacional e cultural que sempre excluiu a fundação da cidade, sua história a partir de Vila de Abrantes, seus personagens e sua importância econômica, e até na distribuição das riquezas com sua gente.
Escombros 6 Sobrou para o último e não mesmo vítima desse processo perverso de desconstrução da cidadania e descuido com a história da cidade, hoje sob nova denominação de “sede do maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul”, e dona de uma das maiores receitas do país, com algo em torno de R$ 1,2 bilhão por ano. O alcaide Antonio Elinaldo, ex-menino pobre, preto e sem diploma de doutor, como os seus antecessores de pele clara e certo patrimônio, é filho desse caldo de desinformação e injustiça construído na cidade nos últimos 50 anos. Mas, isso não excluiu o demista da sua parcela de culpa.
Escombros 7 Durante o mandato do então vereador Elinaldo, o Camaçari Agora, com destaque para a Coluna Camaçarico, denunciou várias vezes esse descaso com o patrimônio. Não existe registro de cobrança do então representante oposicionista no Legislativo sobre a recuperação do centro histórico ao alcaide Ademar Delgado (2013/2016).
Escombros 8 Mesmo com aliados e totalmente sintonizado com os governo estadual e federal, Delgado nada fez. Muito pelo contrário, ajudou a acelerar o quadro com a retirada do bar do Regis, que apesar das dificuldades, garantia vida, efervescência cultural, e cuidados mínimos com a antiga estação de trens.
Escombros 9 Com um governo marcado por um fogo amigo espalhado pelo seu ex-mentor, o 3 vezes prefeito Luiz Caetano, Ademar preferiu empurrar com a barriga do descompromisso com a cidade um projeto que hoje, seguramente não teria chegado na radical e questionável demolição do imóvel que abrigou a sede dos poderes do município.
Escombros 10 Mesmo descuido ficou patenteado com a gestão dos antecessores de Delgado, o demista Helder Almeida (2002/2004), e o seu sucessor Luiz Caetano. Articulado e com trânsito livre em Brasília e no palácio de Ondina, o petista, que já somava experiência na gestão municipal (1986/1988), teve 2 mandatos seguidos (2005/2012), mas também preferiu deixar como legado a sua marretada no patrimônio.
Escombros 11 Apesar de todos os erros dos antecessores, a gestão do alcaide Elinaldo insiste na marreta. Ficou claro no processo de demolição do casarão de pastilhas verdes. Num festival de poucas verdades, a própria prefeitura marreta os próprios dedos quando diz que a sua defesa Civil não atestou a necessidade de demolição do imóvel. Quem então produziu esse laudo, que não foi apresentado à imprensa, muito menos à comunidade.
Escombros 12 Esse erro na condução não parece ter fim e só amplia os problemas. A Coluna apurou que o prédio do antigo cinema é outro candidato a demolição, tal a situação de estrago das suas estruturas. Longe de tratar a situação de forma transparente e profissional, o velho cinema pode ajudar a queimar ainda mais o filme do alcaide.
Escombros 13 Depois da marretada de domingo, a prefeitura deveria se redimir e não esquecer a sigla L.I.M.P.E., eixo da administração pública. Aplicar a Legalidade, a Impessoalidade, a Moralidade, a Publicidade e a Eficiência, como manda a lei, não é favor. A gestão do alcaide Elinaldo precisa divulgar o laudo que respaldou a demolição e apresentar o estudo sobre a situação estrutural do antigo cinema, que pelo novo projeto, segundo nota da prefeitura, vai virar “Cine teatro” e escola de formação de jovens para sua inclusão no mercado cultural.
Escombros 14 Como antecipou com imagens do novo projeto, a Coluna postada sexta-feira (7), antevéspera da demolição, mostra que as obras previstas seguem longe de trazer de volta os aspectos originais dos imóveis. Inclusive, com a construção de um apêndice localizado entre o antigo cinema e a velha sede da prefeitura, conhecida como o prédio verde, demolido domingo (Confira).
Escombros 15 Exemplos não faltam na lista dos descuidos com o patrimônio. Qual a contribuição do município com a preservação do acervo do jornal Folha do Subúrbio, do jornalista Eduardo Cavalcanti. Registro de uma Camaçari que as novas gerações precisam conhecer, estão se deteriorando por falta de ajuda para acondicionamento, digitalização e exposição de tão importante memória.
Escombros 16 O alcaide ainda dispõe de pouco mais de 17 meses de gestão. Mesmo marretado pela ineficiência de sua assessoria, com destaque para as pastas da cultura, pilotada pela doutora Márcia Tude, e da educação, gerida pela doutora e professora Neurilene Martins, ainda dá tempo para fazer a coisa certa e entrar para a galeria dos que se preocuparam com a história da sua cidade.
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João Leite Filho joaoleite01@gmail.com (Editor)
12/6/2019