Busca:

  Notícia
 
Colunistas Diego Copque


Diego Copque é professor, historiador e pesquisador

Um breve passeio pela história da cultura de Camaçari (Parte I) 


Esse texto busca tratar um pouco da história da cultura e principalmente da luta da comunidade artística do município de Camaçari pela criação da Secretaria Municipal de Cultura e seu respectivo Conselho e Fundo Municipal de Cultura, sendo a constituição dessas três entidades uma inestimável contribuição da classe artística de Camaçari para a construção e estabelecimento da identidade e cultura baiana do século XXI.


É indiscutível que a cultura do Estado da Bahia é rica e pujante desde os tempos coloniais. Nossa peculiaridade artística, porque não dizer nossa “baianidade”, começou a ser forjada quando a Bahia ainda pertencia à região Leste Setentrional, pois é oportuno registrar para quem desconhece esse fato que o Estado da Bahia deixou de pertencer à Região Leste em 1970 quando a Região Nordeste recebeu os estados da Bahia e Sergipe. Nesse momento o Brasil teve sua divisão regional mudada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).


A cultura baiana é altamente diversificada, pois nosso estado é um dos maiores centros de cultura do Brasil. A Cidade da Bahia, como era denominada a Cidade do Salvador e principalmente o seu Recôncavo, foi fundamental na construção dessa riquíssima identidade cultural. O Recôncavo Norte da Bahia, região à qual o município de Camaçari está localizado, abrigava o Aldeamento do Espírito Santo (atual Vila de Abrantes) que foi imprescindível no processo de construção da identidade cultural do Estado da Bahia e do Brasil. 


O que hoje conhecemos como município de Camaçari era um imenso território indígena que, posteriormente, foi transformado pelos colonizadores portugueses em um espaço onde os indígenas perderam sua autonomia e passaram a ser tutelados pelos padres jesuítas. Essa histórica localidade transformou-se em um ambiente de múltiplas vertentes étnicas e culturais.


Essa diversidade tem como marca, além da miscigenação biológica entre os povos originários, europeus, africanos, afro-brasileiros e demais agrupamentos oriundos dessa simbiose humana, nossa inefável contribuição cultural a exemplo da tradição de celebrar o Divino Espírito Santo em todo o Brasil, que nasceu no Aldeamento do Espírito Santo em 1558 e ainda permanece viva em Abrantes há 465 anos. Esse mesmo território foi palco das primeiras manifestações artísticas e culturais no Brasil, como o teatro, a dança, a música e até mesmo a educação, pois uma das primeiras escolas jesuíticas fundadas no Brasil foi edificada no aldeamento também em 1558.


No século XX, em 1942, o acadêmico Renato Almeida, da Academia Brasileira de Letras, visitou Camaçari para realizar uma pesquisa sobre o folclore e as manifestações culturais do município. Lá chegando, foi recepcionado pelo então prefeito de Camaçari, Hermógenes Bispo de Souza, que o apresentou à ialorixá Maria Marcelina que era popularmente conhecida pelo codinome de Talami. Ela promoveu a apresentação do bumba meu boi de Camaçari para o estudioso e, ao ser entrevistada, falou a respeito do boi, da burrinha, do urubu e do bode, que faziam parte daquele folguedo. Posteriormente o estudo do acadêmico foi publicado e até mesmo com partituras dos cânticos entoados pelo grupo de bumba meu boi da ialorixá Maria Marcelina.


Na década de 1970, no auge da ditadura militar, essas manifestações estavam preservadas. No ano de 1974 foi fundado o Teatro Amador de Camaçari (TAC) pelo saudoso casal de atores Alberto Martins e Cilene Guedes. Nessa época a cidade contava com o Auditório José Maria de Magalhães Neto que era utilizado como teatro pelo TAC.


Apesar do regime de exceção, o prefeito biônico de Camaçari, Humberto Henrique Garcia Ellery, apoiou o coletivo de atores que nascia na cidade. Em janeiro de 1977, com a fusão das bandas marciais do Colégio São Thomaz de Cantuária e da Escola Polivalente de Camaçari, foi criada a Banda Municipal de Camaçari (Bamuca), que, durante muitos anos, foi regida por Sinésio Almeida.


A consolidação do processo de industrialização em 1978, que se deu com a inauguração do Polo Petroquímico de Camaçari, proporcionou o apagamento e a descaracterização da cultura local como abordamos anteriormente no artigo denominado de Camaçari, uma cidade sem identidade? José Carlos Capinam, quando era secretário municipal da Cultura nos anos de 1986 e 1987, foi o responsável pelo projeto Puxe pela Memória.


Em 1986 quando Capinam assumiu a pasta da Cultura ela era apenas uma Coordenação de Cultura e, no mesmo ano, foi transformada pelo então prefeito, Luiz Carlos Caetano, em Secretaria da Cultura.


Mesmo tendo permanecido apenas um ano no exercício do cargo como secretário da Cultura, Capinam catalogou e inventariou as manifestações culturais e tradicionais do município e identificou que, após o processo de industrialização da cidade, muito havia se perdido das manifestações populares e trabalhou para revitalizaros reisados e marujadas do município.


De acordo com documentos da época, José Carlos Capinam promoveu a criação da Secretaria da Cultura, da Casa da Cultura, o Conselho Municipal de Cultura, as oficinas de teatro e dança, a realização de um circuito de cinema, além de promover a renovação do acervo e reabertura da Biblioteca Pública Municipal, que se encontrava desativada, e a realização do Prêmio Polo Cultural, que, com o apoio das indústrias locais, premiou três escritores do município.


Em 1989, quando José Eudoro Reis Tude, em seu primeiro mandato, assumiu a gestão do município transformou a Secretaria da Cultura em Coordenação da Cultura, ficando a coordenação vinculada à Secretaria Municipal de Esportes. A 2ª parte do artigo será publicada na quinta-feira (26)


Diego de Jesus Copque diegokopke@gmail.com é professor, historiador, pesquisador da história da Bahia e autor dos livros Do Joanes ao Jacuípe: uma história de muitas querelas, tensões e disputas locais e A presença do Recôncavo Norte da Bahia na consolidação da Independência do Brasil.


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor

23/04/2024

Mais Notícias

Mais uma chinesa se prepara para entrar no mercado brasileiro
Colunistas José Carlos Teixeira
Colunistas Luiz Roberto Sobral Sibié
Filas e poucas ficham obrigam TRE a ampliar serviço em Camaçari
Brasil fecha março com 8,6 milhões de pessoas sem ocupação
Bahia cria 12 mil dos 244 mil postos com carteira em março no país
PMs acusados de matar o garoto Joel vão a júri 13 anos depois
Coluna Camaçarico 29 de abril 2024
Anatel amplia o cerco às ligações abusivas realizadas por empresas de telesserviços
CNC apoia taxação de sites de compras internacionais como Shein e Shopee


inicio   |   quem somos   |   gente   |   cordel   |   política e políticos   |   entrevista   |   eventos & agenda cultural   |   colunistas   |   fale conosco

©2024 Todos Direitos Reservados - Camaçari Agora - Desenvolvimento: EL