O que se anunciava como a culminação de um processo de 44 anos foi, na verdade, um frustrante anticlímax, cheio de mal-entendidos, como se os proponentes da Audiência Pública de 17/9 na Câmara dos Vereadores sobre “ações de implantação” do Parque das Dunas de Abrantes e Jauá não soubessem o que faziam.
Para começar, não havia pessoas que colhessem as assinaturas dos que adentravam o plenário. A lista só foi passada enquanto a audiência acontecia. Um grupo de pessoas teve barrado o ingresso no plenário, com base em uma regra de que só 30 pessoas poderiam entrar, quando a própria Câmara estabeleceu o número máximo de 50 pessoas como padrão nesta época de pandemia.
Dentro, os equívocos persistiram. Algumas pessoas foram chamadas para compor a “mesa de honra”. O convite era enganoso: a nenhuma dessas pessoas foi concedido o direito de fala, como aconteceu nas audiências anteriores. O representante do movimento Unegro, chamado a compor a mesa, cansou-se de esperar e educadamente se retirou.
A advogada Suzana Torres, presidente da Comissão de Meio Ambiente da OAB/Seção Camaçari, não estava na relação de oradores previamente preparada, pediu para o assessor inscrevê-la e conseguiu falar. Por sinal, advertiu que a OAB está pronta a entrar no Ministério Público se o decreto de criação do parque, a ser assinado pelo prefeito, sofrer novos adiamentos.
A parte aflitiva da audiência foi, no entanto, ouvir os elogios descabidos que parlamentares e quadros do poder público trocaram entre si. A desmesurada louvação mútua entre homens e mulheres sentados à mesa principal era feita diante de uma plateia indefesa, obrigada a ouvir bajulação. A Secretária de Turismo, Cristiane Bacelar, bateu o recorde: recebeu 10 minutos de fala e gastou cinco deles em elogios aos outros secretários, presentes e ausentes, e, obviamente, ao prefeito.
Houve tentativa de impedir que o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM) falasse, quando o nosso objetivo era simplesmente rememorar a luta da comunidade pela implantação do parque. A vontade da plateia prevaleceu sobre a indiferença dos vereadores dr. Dr. Samuka (Cidadania), Fafá de Senhorinho (DEM) e Dilson Magalhães Júnior (PSDB) e das Secretárias Andréa Montenegro e Cristiane Bacelar. Qualquer uma dessas pessoas poderia ter intervindo em favor do COMAM.
Não foi necessário, no entanto: a insistência da plateia foi mais que suficiente para garantir a fala do COMAM.
Ana Maria Mandim amandim.comam@gmail.com é conselheira presidente do Conselho Municipal de Meio Ambiente de Camaçari (COMAM)
Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor