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Reitores criticam interferência nas universidades federais


O que começou com ataques de integrantes do governo se transformou em um cenário de crise em parte das universidades federais. Após dois anos e meio de Jair Bolsonaro na presidência, 18 dos 50 (36%) reitores escolhidos desde 2019 não foram os mais votados nas eleições internas e a maioria desse grupo está alinhada à gestão federal. Os relatos hoje nessas universidades são de comunidades rachadas, decisões sem consulta a colegiados, paralisia administrativa e na organização da volta presencial. Há ainda queixas de perseguição a professores e alunos — e até uma espécie de processo de impeachment contra um dos reitores.


Embora totalmente financiadas pelo Ministério da Educação (MEC), a lei dá autonomia às federais para eleger seus reitores. A lista com os três nomes mais votados no conselho universitário — formado por uma maioria de professores, além de técnicos e alunos — é enviada ao presidente da República, que escolhe um dessa relação.


Não há irregularidade em escolher o 2º ou o 3º, mas especialistas veem como uma desvalorização da autonomia universitária, além do potencial de elevar conflitos internos. Eles explicam que a garantia de autonomia está associada à lógica da liberdade de cátedra e de pesquisas sem cerceamento político ou ideológico.  


Junta-se ao quadro político uma redução orçamentária promovida pelo governo — esta comum a todas as 69 instituições. Entre 2019, antes da pandemia, e 2021 as verbas das federais caíram 18%. A maioria delas não fez investimentos para uma volta presencial, como adaptar a ventilação, comprar máscaras e álcool em gel, e todas continuam dando aulas essencialmente online. “O caos só não se instalou porque estamos em atividades remotas”, disse no Summit Educação do Estadão na semana passada, o presidente da Andifes (que reúne os reitores das federais), Marcus David. 


Além da falta de recursos, esses novos dirigentes — chamados de “interventores” pelos críticos — têm problemas para aprovar projetos, diante da forte oposição interna. A reportagem do Jornal O Estado de São Paulo conversou com mais de 20 professores, alunos e dirigentes de dez instituições federais ao longo de três semanas. Muitos, por medo, pediram para seus nomes não serem divulgados. Os reitores que responderam aos questionamentos da reportagem negaram as denúncias. Procurado, o MEC não se manifestou.


Na Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o engenheiro Carlos André Bulhões foi anunciado como o novo reitor pelo deputado bolsonarista Bibo Nunes (PSL-RS), antes mesmo da nomeação ser assinada por Bolsonaro, em agosto de 2020. Ele havia ficado em 3º na eleição feita na instituição. 


Logo em seguida da posse, sem aval do conselho universitário, Bulhões mudou a estrutura de pró-reitorias. O conselho se autoconvocou e pediu a abertura de processo administrativo disciplinar contra ele e sua destituição, enviados ao MEC. Funciona como uma espécie de impeachment, mas está nas mãos do ministro afastar ou não o dirigente. O Ministério Público Federal (MPF) também foi acionado. Apesar da tentativa, os docentes têm pouca esperança de que Bulhões será retirado do cargo.


Com apenas 4% dos votos na eleição na Federal do Ceará (UFC), o advogado José Cândido de Albuquerque foi escolhido em 2019 por Bolsonaro. Neste ano, quatro diretores de unidades entraram na Justiça contra o reitor após receberem avaliações bem mais baixas que em outros anos. Eles alegam que tiveram notas ruins — o que pode comprometer a carreira do docente — por discordarem ideologicamente do reitor. 


Os estudantes da UFC ainda perderam seus assentos nos conselhos deliberativos, representatividade assegurada por lei. Assim, deixam de votar nas propostas enviadas pelo reitor. Em nota, Cândido disse que eles não conseguiram “realizar uma eleição válida” no Diretório Central dos Estudantes (DCE). “Ele alegou fraude nas eleições e judicializou o processo”, rebate o aluno de Psicologia Rodrigo Nogueira, de 19 anos, do DCE. 


Alguns dos reitores escolhidos por Bolsonaro nem sequer tinham ligação com o grupo político do presidente, mas se aproximaram ao ver que escolher o 1º deixou de ser praxe. Em alguns casos, ninguém da lista foi nomeado e há reitores temporários em duas federais há mais de um ano. Outros 13 ainda serão nomeados até o fim do mandato. E há 6 federais que ainda não realizaram o processo eleitoral por terem sido criadas recentemente.


Na Federal da Paraíba (UFPB), Valdiney Gouveira — o 3º, com 5% dos votos — foi nomeado em outubro de 2020. Já na Federal de São Paulo (Unifesp), que coordenou o estudo clínico no Brasil da vacina de Oxford contra a covid-19, o 1º até foi nomeado reitor, em maio. Mas, em agosto, um episódio abriu uma crise: a reitoria soube pelo Diário Oficial que o procurador-chefe da instituição havia sido trocado, por decisão direta do governo federal.


A reitora Ludimila Carvalho de Oliveira, da Universidade Federal do Semi Árido  (Ufersa), que fica em Mossoró, no Rio Grande do Norte, também reclama de perseguições. Desde que foi escolhida em maio de 2020, mesmo sendo a 3ª da lista, conta que já foi acusada de morte e que nem as mulheres a defendem. “Fiz parte de uma lista e não de uma fila. A reitora está trabalhando, não vai recuar. Sou legítima”, afirma. Ludimila já apareceu em fotos com o Bolsonaro e é recebida frequentemente pelo ministro da Educação, Milton Ribeiro. Estadão

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