O governo federal avalia comprar mais 100 milhões de doses da vacina contra a covid-19 da Pfizer a US$ 12 a unidade. O preço é 20% maior do que o negociado no primeiro contrato da farmacêutica americana com o Ministério da Saúde, em que foi adquirida quantidade igual do imunizante. Ao todo, a oferta para nova compra totaliza mais de R$ 6,6 bilhões, cerca de R$ 1 bilhão a mais do que o valor anterior.
O governo publicou no Diário Oficial da União extrato de dispensa de licitação, com valor global de R$ 6,6 bilhões, passo importante para assinar o contrato. Na CPI da Covid no Senado, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, afirmou que a pasta estava na "iminência de fechar novo acordo com a Pfizer de cem milhões de doses".
O documento do ministério pede que a entrega desse novo lote seja feita em duas etapas. A primeira remessa, de 30 milhões de doses, deve chegar ao País no terceiro trimestre do ano, entre 1º de julho e 30 de setembro. A entrega do segundo lote, com 70 milhões de doses, está prevista para o quarto trimestre (entre 1º de outubro e 31 de dezembro).
A nota técnica aconselha a compra pelo governo, mas pontua que o valor está acima do que foi pago no contrato anterior e pede que o preço seja negociado. Entre os motivos que embasam a recomendação, os técnicos destacam que talvez seja necessário aplicar doses de reforço da vacina, tendo em vista as mutações do coronavírus. “Caso essa necessidade venha a se concretizar, a necessidade de doses irá aumentar substancialmente”, diz o trecho.
Não constam no documento os motivos para a mudança de preço. À reportagem, a Pfizer disse não comentar negociações e afirmou trabalhar com o governo para a imunização dos brasileiros. Já a assessoria do ministério disse ao Estadão apenas que a compra ainda está em negociação e destacou já ter contrato assinado para aquisição de cem milhões de doses. A primeira remessa, de um milhão de unidades, chegou ao Brasil na semana passada.
A Pfizer tem variado as propostas para diferentes governos. O preço cobrado do Brasil é inferior ao que foi cobrado da União Europeia, que desembolsou por volta de US$ 14,70 por dose, e dos Estados Unidos, que pagaram cerca de US$ 19,50. Israel, um dos países com a vacinação mais adiantada no mundo, pagou à Pfizer US$ 23,50 por dose para recebê-las antes e em grande escala, o que faz o país ser um dos mais imunizados do mundo. A farmacêutica também já disse que países mais pobres iriam pagar preços mais baixos.
Reportagem desta semana pelo jornal americano The New York Times aponta que a vacina contra covid rendeu US$ 3,5 bilhões à Pfizer no 1º trimestre deste ano. A margem de lucro da empresa com os imunizantes está na faixa de 20%, cerca de US$ 700 milhões, conforme a publicação.
Logística complexa motiva taxa maior de perdas de doses. Diferentemente das outras vacinas contra a covid-19 aplicadas no País, o imunizante da Pfizer sobrevive por apenas cinco dias em refrigeradores comuns, com temperatura entre 2ºC e 8ºC. Para ser armazenado por períodos mais longos, de até seis meses, precisa estar em congeladores cuja temperatura varie entre 60ºC e 80ºC negativos.
O documento também pontua que a aquisição tem elevado risco de perdas. O cálculo do governo é que 30% das doses sejam perdidas, índice bem acima da taxa de 10% calculada para a Coronavac e a vacina de Oxford/AstraZeneca. Para chegar a esse índice, a Saúde considera declarações feitas pela França, que estima desperdício entre 25% e 30% do imunizante da Pfizer. Segundo a nota do Ministério da Saúde, a perda média prevista no Brasil é de 15%.
Sobre as projeções de perda de doses feitas pelo governo, a Pfizer afirmou à reportagem que"fica a critério dos programas de imunização de cada país, baseados em sua experiência, qualquer estimativa acerca do tema". Estadão