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Jolivaldo Freitas


Terrivelmente cristã



“O Estado é laico, mas essa ministra é terrivelmente cristã”, quase que vociferou a ministra
Damares Alves (aquela que não deixou o pobre menino Jesus comer goiaba no pé). Quem
quiser que se prepara para viver um período de limbus, até que o mantra fique enjoado, de
citações bíblicas, religiosas, dogmáticas vindas de políticos – muitos que têm até parte do com
o Diabo – que irão se imiscuir na filosofia/religião do novo presidente e da sua trupe
evangélica. Com certeza políticos, puxa-sacos, agregados e aderentes farão encontros de
orações cerrado, no sertão, no litoral e no Palácio da Alvorada.
A ministra das Mulheres e Direitos Humanos chorou e se emocionou durante seu discurso de
posse em que proferiu a frase quase que em tom ameaçador, do tipo “pode vir quente que
estou fervendo, seus incréus. Seuas infiéis”. A ministra é xiita, a ministra tem se mostrado
fundamentalista. E já colocou a culpa das críticas e achincalhes às suas “viagens” e suas
diatribes na imprensa, achando que vem sendo perseguida por causa da sua fé. E assegurou
que vai administrar com princípios cristã, o que contradiz sua “visão” de que o Estado é laico. E
a ministra garantiu que vai lutar contra a doutrinação ideológica. Mas, qual? Contra a sua
própria ideologia ou contra a do oponente?
Terrivelmente cristão foi o que levou o Ocidente contra o Oriente. Terrivelmente Cristão foi o
que causou a dizimação da cultura pré-colombiana. O grande exemplo foi o advento das
Cruzadas em que militares cristãos marcharam contra para o Oriente Médio, em nome de
Cristo, em busca da Terra Santa e para subjugar os ímpios. Era preciso, na visão dos cruzados,
colocar o oposto Maomé para correr, acabar com islamismo (religião surgida no século VII).
Veja que no centro do embate estava a cidade de Jerusalém, local sagrado para as religiões
envolvidas. O mesmo que vem ocorrendo hoje em que Israel quer mudar a sua capital e o
presidente Jair Bolsonaro, dentro da sua concepção judaico-cristã já se meteu e apoia. Hoje
Israel, e agora com o Brasil em seu entourage, procede uma espécie de neocruzada contra os
muçulmanos. Algo terrivelmente cristão e perigoso.
O terrivelmente cristão gerou aberrações e sucumbiram sob a égide da Espanha e de Portugal
as culturas e as religiões das nações tupi-guarani. Sofreram os incas e os maias, os astecas. Na
América do Norte foi a imposição do protestantismo que aplainou a cultura original e os
preceitos. A África sofreu com o catolicismo e hoje está invadida pelos evangélicos.
O terrivelmente cristão gerou danos para a cultura da humanidade. Em seu livro "A Chegada
das Trevas: Como os Cristãos Destruíram o Mundo Clássico", a escritora e jornalista inglesa
Catherine Nixey relata a história da destruição pelo cristianismo do mundo clássico na Grécia
Antiga e no Império Romano. Portanto, pare e pense que o termo “terrivelmente” pode ser
uma conotação (figurado, subjetivo, muito além do seu significado literal) ou mesmo uma
denotação (referencia, remetendo a vários sentidos e ideias). ”Terrivelmente” é terrível se for
literal. É hora de todos os santos e a Santíssima Trindade ficarem em alerta e protejam o Brasil.
Estejamos atentos e fortes. Precisamos neste momento de mens sana in corpore sano.

E logo em seguida ao “terrivelmente” veio sua alegria incontrolável vaticinando que agora
menino usa azul e menina usa rosa. E vieram os memes, em que um se destacava observando
que tem adulto que preciosa vestir camisa-de-força.
Jolivaldo Freitas Jolivaldo.freitas@yahoo.com.br  é escritor e jornalista:


 
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