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Danival Dias


O Salvador Fest e a classe média soteropolitana



A jovem classe média (que pensa que é rica) de Salvador, até bem pouco tempo, classificava os espaços de entretenimento entre os que supostamente eram ou não “lugar de gente bonita”. Lá atrás, nos anos 1980/1990, os blocos tinham até “ficha de filiação com foto” e se você não fosse branco e morador da Barra, Graça, Canela ou Pituba, esquecesse a pretensão de vestir uma mortalha/abadá, pois, dificilmente você seria aprovado, pasmem, para comprar (isso, comprar e não era barato) a sua fantasia... 


Soa absurdo? Soa, mas, isso existiu até quase o início dos anos 2000! Para os jovens da elite branca soteropolitana, eram produzidas festas e ensaios no auge do Clube Espanhol, as resenhas nos bares badalados da orla, os “Bonfim Light” da vida, só que isso tudo FALIU, acabou, tchau... 


Lembro bem que quando a “Salvador Fest” começou, quem “descia de galera” era meu povo da periferia, esse era o público alvo. Quem não lembra dos outdoors espalhados na capital da Bahia com os dizeres “Beiru vai descer”,  “Itinga vai descer”, “Bairro da Paz vai descer” ou “Tancredo Neves vai descer”? Sucesso de vendas. Paralelo a isso, já no início do boom das redes sociais, a classe média (merda) fazia todo tipo de piada racista e consequentemente sem graça, com fotografias de irmãos e irmãs da periferia, nos pontos de ônibus, felizes, seguindo para o evento. 


A “Salvador Fest” era festa de preto, de pobre, da turma da favela e consequentemente, na visão deturpada e preconceituosa dos almofadinhas, não era “lugar de gente bonita”.Com a derrocada dos eventos quase que exclusivos para os brancos, os produtores do “Salvador Fest” que não são bobos nem nada, viram nisso a oportunidade do aumento de seus lucros, alocando os mauricinhos e patricinhas dentro da festa, criando os espaços “VIPs x Lounge x Front Stage x blaster x master x Glamour” e agora o Alphaville, a Pituba, a Barra, a Graça e o Canela também “descem” e junto com a galera do gueto que chega de buzu e metrô, a turma que “painho e mainha vão levar e buscar”, dão o ar de sua graça.


O Salvador Fest cresceu, virou “cult” e se tornou o maior evento privado do seguimento na cidade, maior até do que o “Festival de Verão Salvador” (outro reduto da classe média, que era grande e depois “miou”, quase acabando de vez) e agora é frequentado também pela “gente bonita” que outrora torcia o nariz para a nossa galera da periferia. O mundo dá mesmo voltas, ou, no melhor da resenha do meu povão, “receba (classe merda) seu saco de cimento Poty na caixa dos peitos”! 


Danival Dias danival.dias@gmail.com é servidor público estadual concursado desde 1997, especialista em gestão pública municipal, contabilista, graduado em Direito, Letras e graduando em Administração Pública. Filho de Camaçari, apaixonado por sua cidade, nascido e criado no Bairro Ponto Certo


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor


 
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