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José Cupertino


Juntos e misturados



Muitas vezes, fico imaginando, pensando, tentando decifrar os enigmas, os mistérios e os sinais que nos são apresentados pela vida e deixamos passar despercebidos. Com  esse episódio da pandemia, que nos aconselha o isolamento social, aumentou para todos o tempo para reflexões. Reflito sobre o que já fiz, vi e vivi, sobre o que deixei de fazer e poderia ter feito, do que fiz e poderia  ter deixado de fazer, do que falei e poderia não ter falado, do que deixei de falar e deveria ter falado, das brigas que briguei e poderia não ter brigado, das que deixei de brigar e deveria ter brigado. Enfim, é essa diversidade de procedimentos, atitudes e de ações que constam no nosso "Currículo Vita”.


São essas atitudes, que nos identificam   perante as pessoas com as quais convivemos e interagimos, nos meios sociais pelo quais passamos, sejam na família, nas escolas, nos esportes, no trabalho e no nosso cotidiano. Somos o que somos pelas as ações que empreendemos ao longo das nossa vidas, vamos construindo um conceito, certo para uns errado para outros, aplaudido por uns vaiado por outros, acariciado por alguns, espancado por outros.


Como o amor que temos por nós mesmos é imenso, tanto que JESUS em um determinado momento , diz em uma das suas pregações  "Amarás o teu próximo, como a ti mesmo",  nós, nos achamos sempre certos, justificamos as nossas atitudes, com a convicção de que quando agimos, assim ou assado, tínhamos razão para fazê-lo, e o fizemos usando o nosso bom senso, temos dificuldades de reconhecer nossa fraquezas, nossas limitações e os nossos erros.


Enaltecemos a nossa grandeza e escondemos a pequenez das nossas atitudes, quantas vezes fomos egoístas, arrogantes, intransigentes, violentos e podíamos ter agido diferente, quantas vezes deixamos passar a oportunidade de exercer o AMOR ao próximo, negando um dos conselhos de JESUS.


Aí me vem outra reflexão, o que DEUS, quis nos dizer, quando estabeleceu, a santíssima trindade "Pai, Filho e Espírito Santo",  talvez quisesse dizer que embora o homem tenha em mente a individualidade do ser "Eu", na verdade o "Eu" é "Nós". Se ELE, o omnipotente criador de todas as coisas, tem a humildade de se dividir em três, porquê nós pobres mortais, temos que ser um único e absoluto ser, quando sabemos que o poder absoluto e a individualidade são danosos e nefastos para a coletividade?


Esse sentimento de individualidade, que é incentivado em algumas sociedades e muito cultivado por nós seres humanos, nos transforma em ilhas, em universos isolados dos demais, vivemos juntos por hábito, mas no fundo cada um cuida de sí, sem muita preocupação com o que possa acontecer, com os nossos semelhantes, nos transformamos em seres egoístas, individualistas, tentando galgar posições, que nos dê a garantia de mantermos o nosso estatus, independente das outras pessoas.


Com esse procedimento, vamos esquecendo ou minimizando o sentido da coletividade das ações, esquecemos, que sozinho, não existiríamos, nascemos de outra pessoa, fomos gerados pelos nossos pais, fomos cuidados ou cuidamos de outras pessoas, irmãos, parentes, aprendemos com professores, praticamos esportes compartilhando derrotas ou vitórias com os companheiros de equipe.


Somos seres criados para viver em grupos, irmanados "juntos e misturados" , nos ajudando, nos protegendo, foi assim que os nossos ancestrais sobreviveram, reunindo-se em grupos, famílias, tribos, castas e aldeias, mas com o passar do tempo fomos perdendo esse sentido da coletividade, e fomos nos isolando, fomos nos achando autossuficientes, fomos esquecendo dessa fraternidade que devia nortear a evolução da humanidade.


E, hoje que estamos vivendo o distanciamento, imposto pelo coronavírus, sentimos falta dos apertos de mão, dos abraços, da convivência em grupos, dos papos animados, em torno de uma mesa de bar, ou em qualquer outro espaço no qual a família e os amigos possam se encontrar. Não sabemos quanto tempo ainda sofreremos com o Covid 19, não sabemos quantas mortes ainda vamos lamentar, mas sabemos que ele nos fez sentir falta de coisas básicas que subestimamos por muito tempo, a pandemia fez reacender nos homens o sentimento da solidariedade, a necessidade de todos os países se harmonizarem, como fazem agora buscando soluções para deter essa doença que colocou todos no mesmo patamar.


Para encerrar, quero dizer que estamos aprendendo que sozinhos somos frágeis, desprotegidos que precisamos ter pessoas por perto, para nos completar, que não se alcança a felicidade sozinho, que somos criaturas, todas criadas pelo mesmo Criador. Portanto, quando se diz eu, estamos dizendo " É NÓS" e devemos viver  de maneira amorosa, fraterna e solidária ou seja, "JUNTOS E MISTURADOS ". Até breve Um forte abraço


José Cupertino evelimbrandao@hotmail.com é secretário de desenvolvimento da orla de Camaçari, ex-secretário de desenvolvimento urbano, ex-vereador de Camaçari


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor


 
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