Em 2008, depois de quase três anos e meio participando de um governo que tinha tudo para dar certo, mas, que se rendeu à velha política que combatemos em discursos inflamados, planos de governo exitosos, promessas de valorização da população local, infraestrutura que poderia beneficias milhares de pessoas com acesso à educação, cultura, artes, de prometermos a valorização da autoestima do povo camaçariense, resolvi pedir exoneração via protocolo geral e em caráter irrevogável.
Não acreditava mais no governo que havia ajudado, através de diversas rupturas e lutas pessoais e coletivas, e sentia vergonha de participar da farsa que se tornou um sonho construído com tanta gente bem-intencionada.
Me vi isolado dentro de uma administração que privilegiava velhas figuras da política de Camaçari, em detrimento de quem carregou o piano para que chegássemos ao poder com uma promessa de novos caminhos para a nossa cidade.
Na época, recebi proposta para trabalhar em campanhas no interior de São Paulo, ainda ligado ao Partido dos Trabalhadores, período em que fizemos um bom trabalho e que a força das circunstâncias, me fizeram permanecer na capital paulista.
Com o tempo, tive oportunidades de desenvolver diversos trabalhos ligados à educação, retorno à universidade, participação em movimentos sociais, articulações culturais, acesso a diversas instituições e pessoas que me acolheram com uma dose de reconhecimento que busquei e lutei dentro da minha cidade, mas, que infelizmente eram desprivilegiados nas principais decisões de governo.
O “santo de casa” não fazia milagre mesmo. Enquanto gozava de prestígio e respeito longe de minha casa, ouvia e acompanhava relatos a cada dia de mais falta de respeito e isolamento dos que trilharam comigo para naquela campanha de 2004, mas, que se tornava mais do mesmo.
Todas as minhas estadas para visitar Camaçari, mais de três vezes ao ano e sempre retornando para as eleições, na qual nunca mudei meu domicílio eleitoral para a cidade que residia, São Paulo, me mantive ligado, interferindo à medida do possível, escrevendo periodicamente em meios de comunicação e sempre atualizado com cada passo da política local. Infelizmente, percebendo a degradação dos índices sociais, manobras típicas de filmes de mafiosos, que permearam as relações políticas na nossa cidade.
Sempre era questionado sobre quando voltaria para Camaçari. Respondia que tenho uma vida em São Paulo. Que as coisas estavam fluindo bem e que tinha encontrado na cidade, um eco para as minhas realizações pessoais e de interferência na sociedade.
Mas esses questionamentos geralmente vinham acompanhado de uma certa crítica ao fato de eu intervir em tantas frentes fora da minha terra e não fazer o mesmo na nossa Camaçari. Respondia que temos pessoas capazes e que deveriam entrar para a política, que eu apoiaria mesmo à distância e até reservaria meses para poder interferia diretamente na campanha.
Nos últimos tempos essas “cobranças” se intensificaram e as pessoas queriam que eu voltasse para me candidatar a prefeito da cidade, pois não suportavam mais essa alternância de poder em que pequenos grupos se beneficiava – muitas vezes nas duas vias polarizadas – e que precisavam de uma mudança significativa nos caminhos traçados por Camaçari.
Passei a ouvir mais atentamente e aberto à reflexão sobre a possibilidade de voltar. Além de uma vida consolidada na cidade que me acolheu tão bem, precisava estar cercado de pessoas que, para além de “mudanças”, apostassem em uma verdadeira ruptura nos padrões políticos e administrativos na prefeitura.
Depois de ouvir muita gente, resolvi colocar o meu nome à disposição da sociedade, a fim de começarmos um diálogo com novas lideranças que precisam ter voz, com pessoas competentes e sérias que nunca tiveram oportunidade, tampouco visibilidade, para os que sempre governaram Camaçari. As conversas avançaram e em uma longa e frutífera conversa com o PSOL, partido que tenho identificação muito forte, resolvemos trilhar como pré-candidato na chapa majoritária no nosso município.
Nesse momento, estou fechando os meus compromissos profissionais que havia assumido até o final do ano e pretendo retornar à Camaçari até o final de dezembro, para iniciarmos essa caminhada digna e franciscana, com muita humildade e respeito, mas, acima de tudo, construindo um projeto de cidade a várias mãos, corações e mentes.
Será esse projeto, a forma de tratar a coisa pública, trabalhar os índices sociais e tentar elaborar propostas que visem tirar Camaçari de amargas colocações em matéria de violência, acesso a serviços públicos de qualidade, arte, cultura, educação, segurança pública, geração de emprego e renda, o carro-chefe da nossa campanha.
Pretendemos fazer uma campanha limpa e propositiva, em que demonstraremos que não seremos fantoches de velhos grupos políticos, nem quintal de Salvador. Quem aderir ao nosso projeto, terá a certeza que será o prefeito eleito quem dará as cartas, juntamente com pessoas da nossa cidade que ajudarão a construir esse projeto. Que não seremos reféns, tampouco marionetes de ninguém. Buscaremos uma gestão com valorização das pessoas de Camaçari, que não são poucas e muito competentes, para tentarmos colocar a nossa cidade em um caminho que pode abrir novos horizontes em tempos tão nebulosos.
Desde já agradeço a confiança depositada em minha pessoa e espero poder retribuir com muito trabalho e respeito ao nosso povo. Que a oportunidade de estar entre os meus, de uma forma tão importante e decisiva, me traz cada vez mais responsabilidade e força. Que não teremos medo daqueles que insistem em manter nosso município como seus feudos. Trilharemos firmes e juntos, afinal Chegou a Hora.
Sócrates Magno Torres socratesri@yahoo.com.br é especialista em educação, ex-secretário municipal e atualmente mora em São Paulo
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