No Brasil, como dizem alguns, o ano só começa após o Carnaval. Infelizmente, parece que esse ditado popular foi seguido a risca pelas autoridades brasileiras. Pois, ao que tudo indica, os cuidados necessários para a prevenção e combate a pandemia COVID-19, cujo primeiro caso foi registrado na China em 31 de dezembro de 2019, só foi divulgado o 1º caso no Brasil em 26 de fevereiro (quarta-feira de cinzas). Seria uma coincidência a confirmação surgir após a realização das festas de Carnaval ou uma clara negligência?
A festa que reuniu milhões de foliões pelo Brasil a dentro, também concentrou milhares de turistas estrangeiros, dentre eles Chineses, Portugueses, Espanhóis e Italianos, de países e cidades europeias e asiáticas, onde foram registrados um alto número de pessoas contaminadas pelo COVID-19, resultando até agora em milhares de mortes. Porém, mesmo com a preocupação da Organização Mundial de Saúde (OMS), que já havia declarado governos e governantes permitiram a realização de eventos carnavalescos, desconsiderando as orientações de organismos de saúde, que já informava sobre os cuidados necessários para evitar a proliferação da doença.
Somente a Bahia recebeu mais de 86 mil turistas estrangeiros, que vieram principalmente da Espanha, França, Itália e Portugal, segundo dados da Empresa Salvador Turismo (Saltur). Quantos destes turistas não desembarcaram nos aeroportos e portos brasileiros já contaminados (sem que soubessem) e que retornaram para seus países de origem após o Carnaval? Quantos destes mesmos estrangeiros já apresentaram algum sintoma da doença em seu país e seus atuais estados clínicos? Será que somente o brasileiro que retornou a Itália e foi diagnosticado em São Paulo, como o primeiro caso foi infectado lá? Outros brasileiros e outros estrangeiros que estiveram presentes no Carnaval não estavam infectados com o COVID-19?
Foram 1,8 bilhões de reais injetados na economia baiana com a realização do Carnaval de Salvador. O que demandou um aumento de 9% no número de assentos disponíveis nos voos do Aeroporto de Salvador, comparado a 2019, que resultou em mais de 382 mil passageiros desembarcados neste período. Será que este foi o motivo para a preocupação tardia? Será que estes 1,8 bilhões de reais compensa? Com certeza que não! Vidas não tem preço. E, se levarmos em conta as despesas que serão realizadas com o atendimento médico as pessoas infectadas com o COVID-19, a carência de atendimento e procedimentos ocasionados nos postos e hospitais por conta da atenção específica ao Coronavírus, e todos os prejuízos causados pelo isolamento social indispensável para evitar a propagação da doença, o impacto financeiro nas contas dos governos e nas vidas dos brasileiros serão multiplicadamente maiores.
Essa é verdadeira ressaca que nós, brasileiros e brasileira teremos do Carnaval 2020. Mesmo em aqueles que permaneceram em suas casas e trabalho durante as festas. Cuja “dor de cabeça” - mais febre e outros sintomas - não passarão após um ou dois dias. Essa ressaca vai durar, infelizmente, por muitos meses nas vidas de alguns e por anos nas vidas de outros.
Cleiton Pereira cleitonmpe@hotmail.com é chefe de gabinete e servidor de carreira da Superintendência de Trânsito e Transporte Público de Camaçari (STT), consultor de trânsito e transporte e ex-presidente da Juventude do Partido Democratas de Camaçari.
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