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Ricardo Gueudeville


Precisamos falar sobre HIV/AIDS



Assunto que já foi tão alarmado na mídia na década de 1980, a aids se tornou um tema pouco visto e pouco discutido na última década. As implicações se fazem presente nos altos índices de contágio no mundo. Aproveito a proximidade com o dia 1º de Dezembro, quando foi comemorado o dia mundial de enfrentamento da epidemia, para trazer o assunto à luz do dia.


É importante lembrar que já se passaram mais de 30 anos que a aids apareceu e hoje ela se tornou basicamente uma enfermidade bem distinta daquela que levou a vida de tantos ídolos. Atualmente, a aids, ainda sem cura, é uma doença controlável para os seus portadores devido a eficácia do tratamento que além de afastar o fantasma da morte, diminui consideravelmente as chances de uma nova transmissão.


Entretanto, de nada serve tanto dinheiro aplicado em pesquisas para fabricar medicamentos capazes de conter o avanço do vírus no organismo se o próprio portador NÃO SABE QUE TEM ou uma vez sabendo, NÃO QUER ADERIR ao tratamento. O grande desafio atual no enfrentamento ao HIV/aids é facilitar o acesso da população à testagem e uma vez diagnosticado, possibilitar a adesão ao tratamento.


Para isto, dentre algumas ações, devemos falar mais sobre HIV/aids. A população precisa saber mais sobre as formas de contágio, não somente para prevenir, mas também para não reforçar atitudes discriminatórias. Também nunca foi tão necessário atentar para a diferença entre ser portador do HIV (assintomático) e estar num quadro de aids (com presença de doenças oportunistas). A condição de pessoa que vive com HIV, sem entrar no quadro de aids será a situação da maior parte das pessoas infectadas nesse século 21, desde que estejam com seu tratamento em dia.


Outro fator ainda desconhecido por parte até de profissionais de saúde é sobre a possibilidade da pessoa viver com HIV e não ser transmissor do vírus, condição conquistada pelo uso regular das medicações. Através de exames periódicos, monitora-se o cumprimento de uma das mais importantes metas de todo o tratamento de aids no mundo: tornar a pessoa infectada em não transmissora de HIV devido a sua condição de  carga viral insuficiente (carga viral indetectável). A convivência amorosa e íntima entre pessoas de sorologias discordantes (em que um é portador e o outro não), é e será, cada vez mais, uma realidade presente.


Concluo então que é preciso falar mais sobre aids no sentido de favorecer que as pessoas não a desrespeite nem a “demonize”. Desmistificar muito dos estereótipos e preconceitos sobre as pessoas que vivem com HIV pode ser uma digna missão para esta nova fase da epidemia. Com menos preconceitos, mais pessoas podem fazer testes periodicamente, bem como, em caso de infecção, aderir ao tratamento que torna essa pessoa não transmissora. Trata-se de uma cadeia de eventos que para conseguirmos isso é preciso retirar a aids da condição de “assunto tabu”.


Ricardo Gueudeville é psicólogo, professor da faculdade Unime, diretor do Instituto Salto e atua no centro de referência em tratamento e prevenção de DST/Aids e hepatites virais da prefeitura de Camaçari


 
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