Como filho do orixa Oxaguiã, Obá de Xangô do Ile Axé Opô Afonjá fundado em 1910, sobre a grande polêmica que fazem com a religião dos orixás é o fato de em alguns de seus rituais animais serem sacrificados. Estou realizando estas reflexões tomando como referência observações da minha Yalorixa Odé Kaoydé em um artigo publicado em 2012 sobre sacrificio de animais em rituais de candomblé, prática que existe desde quando o homem precisa alimentar-se.
Sempre foram realizados por muitas religiões, mas que aos poucos foram deixando de existir em algumas. O candomblé pratica porque é uma religião que tem uma profunda relação com o planeta Terra, tanto que suas danças são feitas com os pés totalmente plantados no chão, diferente do balé, que parece demonstrar que os bailarinos, dançando nas pontas dos pés, desejam alcançar o céu.
Essa ligação com a terra não poderia excluir a necessidade que o homem tem de se alimentar para sobreviver. Oferecemos aos deuses tudo aquilo que nos mantém vivos e alegres: alimentos, flores, perfumes, água limpa e fresca. É necessário refletir que no dia em que os homens deixarem de ter na mesa galinha, galo, carneiro, porco, boi… naturalmente esses animais deixarão de ser ofertados aos deuses. Se um dia o sacrifício humano existiu foi porque as tribos se alimentavam de seus semelhantes.
Se a desculpa para crítica de sacrifício de animais se deve ao fato de eles serem seres vivos, gostaria de lembrar que laranja, alface, couve também são seres vivos. Não matamos o animal, damos a ele um novo nascimento, por isso cantamos: Bi ewe yeje para lala ie, Ògún pere pa = Demos-lhes um novo nascimento, você resistiu à prova, ultrapassou seguramente privações e sofrimentos, você não está morto, está vivo. Somente Ogun mata. Salvador, 15 de julho de 2018. Em terras de Xangô Afonjá no São Gonçalo do Retiro.
Ribamar Daniel-Obá é médico, Odofim (ministro de Xangô) e Presidente da Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá |