A direção da Ford enviou carta aos funcionários das fábricas de Taubaté (motores) e Camaçari (onde produzia o EcoSport e o Ka), dizendo que convocará um grupo para produzir, “por alguns meses” peças para o mercado de reposição. A orientação dos Sindicatos de Camaçari e Taubaté é para que ninguém atenda à convocação até que negociações sejam concluídas. A Ford informa apenas que “estão acontecendo reuniões com os sindicatos de Taubaté e Camaçari e no momento não tem nada adicional para anunciar”.
“Como a empresa quer que o trabalhador aceite isso depois de levar um tapa na cara e não ter recebido nenhum pedido de desculpa?”, indaga o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Camaçari, Júlio Bonfim.
Como parte da mobilização organizada pelas centrais sindicais, a quinta-feira (21) será de protestos em frente a várias concessionárias da Ford em todo o País. No mesmo dia haverá assembleia com trabalhadores e um ato ecumênico.
A montadora iniciou na segunda-feira (18) encontros com dirigentes sindicais das fábricas de Camaçari (BA) e Taubaté (SP) para negociar indenizações aos trabalhadores. Segundo as entidades, não houve ainda apresentação de propostas, o que deve ocorrer em novo encontro já agendado para esta quarta-feira (20).
No dia 12, a multinacional americana anunciou o encerramento das atividades de produção no País e fechou imediatamente as fábricas de carros e de motores. A unidade da Troller, fabricante de jipes em Horizonte (CE), vai funcionar até o fim do ano e depois encerra definitivamente as atividades. No fim de 2019, o grupo já tinha fechado a fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC paulista.
A decisão vai resultar no corte de 5 mil funcionários diretos, de um total de 6,1 mil. A empresa vai manter operações do centro de desenvolvimento, do campo de provas e de um escritório administrativo para tocar a atividade de importação de modelos da marca.
Estudo divulgado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) projeta perda de até 118,8 mil postos de trabalho no País, levando em conta o impacto dos empregos diretos, da cadeia de fornecedores de peças e das vagas induzidas (como serviços e comércio).
Pelos cálculos, haverá perda de R$ 2,5 bilhões na renda dos trabalhadores ligados à Ford, dado obtido por meio de levantamento com base na matriz de insumo-produto, índice do IBGE que é uma espécie de “fotografia” dos fluxos da economia nacional, informa o Dieese.
A pesquisa mostra ainda que a arrecadação de tributos terá queda estimada de R$ 3 bilhões. O Dieese calcula que, a cada R$ 1 gasto na indústria automobilística, é acrescentado R$ 1,4 no valor adicionado da economia. Estadão