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Quadro biográfico dos colonizadores de Camaçari


Diego Copque é professor, historiador, pesquisador da História de Camaçari

De acordo com o último artigo publicado na seção Colunistas do Camaçari Agora, apresentamos para os nossos leitores, relevantes informações sobre a participação dos padres da Companhia de Jesus, nas primeiras manifestações artísticas e culturais no período do Brasil colonial. Na perspectiva de descortinar o perfil biográfico dos colonizadores da região que veio a se tornar município de Camaçari, tivemos que elaborar um quadro síntese a partir da origem e evolução da educação escolar em nosso país. 


No Brasil do século XVI, os jesuítas criaram escolas e colégios para ensinar as "primeiras letras" aos povos indígenas e os doutrinar na fé católica cristã, bem como educar os jovens órfãos encaminhados de Portugal que vieram para se relacionar com crianças indígenas na colônia, e assim promover o processo de aculturação, sob o manto da interação, nessas circunstâncias os padres da Companhia de Jesus fundaram as primeiras escolas e colégios no Brasil. 


A primeira instituição de ensino a ser instalada foi o Colégio dos Meninos de Jesus, fundado em 1549, na Cidade do Salvador. O segundo foi o Colégio de São Vicente, fundado na Capitania de São Vicente em 1550, o terceiro foi o Colégio de São Tiago, na Capitania do Espírito Santo em 1552. Neste período foram enviados do Colégio da Bahia para as capitanias de São Vicente e do Espírito Santo alguns dos meninos órfãos que vieram de Portugal para servirem como uma espécie de alunos padrão (modelo) para os indiozinhos nos novos colégios. 


O  quarto foi o Colégio de São Paulo de Piratininga, em 1554, onde os padres José de Anchieta, Manoel da Nóbrega e o noviço Antônio Rodrigues, fundaram o Colégio de São Paulo, o qual deu origem ao aldeamento do mesmo nome, que posteriormente transformou o dia 25 de janeiro de 1554, em data oficial de fundação da Cidade de São Paulo. O pátio do colégio de São Paulo de Piratininga se tornou marco de fundação dessa cidade, hoje com 466 anos de fundação. O quinto e o sexto colégios, respectivamente, foram os colégios de Olinda, fundado na Capitania de Pernambuco em 1554, e o Colégio do Aldeamento do Espírito Santo (Vila de Abrantes), fundado em 1558. 


A maioria destes colégios tiveram a peculiaridade de ter iniciado suas atividades como escolas elementares com a finalidade de ensinar a ler e escrever, e outros tinha a especificidade de formar padres para a Companhia de Jesus. É importante registrar que o Colégio dos Meninos de Jesus, contou com quatro cursos superiores que compreendiam os cursos de: Artes, Teologia, Matemática, Fortificações e Artilharia para graduação de engenheiros militares. Conforme o pesquisador e memorialista Antônio Carlos Nogueira Britto, que no livro, Ciência Cultura e Fé, afirma: "em 1573, foram graduados os primeiros Bacharéis em Artes do Brasil", esse fato ocorreu no Colégio do Largo do Terreiro de Jesus, na Cidade do Salvador. 


De acordo com Serafim Leite, em Novas Páginas de História do Brasil, o noviço Antônio Rodrigues, foi um dos primeiros "Mestre Escola do Brasil", ou seja, um professor de instrução primária, ou professor de "primeiras letras". Antônio Rodrigues, nasceu em Lisboa por volta de 1516, e tinha 37 anos quando chegou na Capitania de São Vicente, no dia 31 de maio de 1553. Antes, havia servido como soldado nas guerras do Rio da Prata, naquela altura habitada pelos povos originários da região, os índios Guaranis, uma das mais importantes etnias indígenas das Américas, é importante ressaltar que a região platina foi colonizada pelos espanhóis. 


Servindo como soldado, Antônio Rodrigues esteve presente na fundação das cidades de Buenos Aires, na Argentina, em 1536, e de Assunção, no Paraguai, em 1537. De Assunção, que também era conhecida como "Nueva Andaluzia do Rio da Prata", ele seguiu para a Capitania de São Vicente na América Portuguesa, ao chegar no Brasil, logo ingressou na Companhia de Jesus, e assim presenciou o ato que reuniu as três aldeias indígenas que originou o Colégio de São Paulo de Piratininga. Em 1556, junto com o padre Manoel da Nóbrega, o noviço Antônio Rodrigues partiu do Colégio de São Paulo para a Capitania da Bahia na perspectiva de receber Ordens Sacras. 


Ele era um profundo conhecedor da língua tupi-guarani, e tendo atuado como tradutor do tupi para a língua portuguesa nos contatos com indígenas e colonizadores, passou a ser chamado pelos portugueses de "línguas", como eram denominados os poliglotas e interpretes da época. Homem culto e dotado de dons artísticos, músico e cantor, sabia tocar flauta, tendo organizado coros de canto e flautas na Bahia, constituídos por "curumins" ou "meninos brasis", como eram chamados os meninos indígenas. 


A biografia de Antônio Rodrigues, se cruza em dado momento com a história do padre João Gonçalves, que entrou para a Companhia de Jesus em 11 de janeiro de 1550, e por volta de 1555, iniciou seu ministério nos aldeamentos da Capitania da Bahia. No ano de 1556, João Gonçalves recebe Ordens Sacras, e segundo a historiografia jesuítica, é reputado como o primeiro padre que teve ofício de "Padre Mestre no Brasil", um padre que se ocupava do magistério e liderança de turmas de formação de padres missionários, sendo assim mestre dos primeiros noviços do Brasil. João Gonçalves se tornou responsável pelo Colégio dos Meninos de Jesus na Cidade do Salvador como padre superior. Ele Residiu no Terreiro de Jesus, mas, sua maior atuação se deu nos aldeamentos indígenas, principalmente, quando atuava como boticário, uma espécie de farmacêutico, que socorria aos índios em suas enfermidades, muitas dessas doenças eram levadas pelo próprio colonizador. 


O padre João Gonçalves em companhia do noviço Antônio Rodrigues, celebraram no dia de Pentecostes-29 de maio de 1558-,a fundação do Aldeamento do Espírito Santo (Vila de Abrantes). Conforme Serafim Leite, em um curto espaço de tempo, eles conseguiram congregar entre 150 a 300 alunos naquele aldeamento. No dia 8 de dezembro de 1558, o padre João Gonçalves realizou diversos batizados de crianças lactantes no Aldeamento do Espírito Santo, que se deu na perspectiva de diminuir a mortalidade de crianças pagãs. Naquele mesmo dia, após as celebrações, o padre João Gonçalves apresentou uma forte febre, e por essa razão, foi levado para o Colégio do Terreiro de Jesus, tendo seu estado de saúde agravado, não resistiu, e morreu no dia 20 de dezembro de 1558. 


Depois de fundar o Aldeamento do Espírito Santo, o noviço Antônio Rodrigues, fundou outros aldeamentos na região do Recôncavo Norte, foi ordenado padre em 1562, ainda na Capitania da Bahia. Posteriormente, se mudou para a capitania do Rio de Janeiro e fundou em 1567, o Colégio do Rio de Janeiro. O padre Antônio Rodrigues, em parceria com o padre João Gonçalves fundaram o aldeamento que originou o que hoje conhecemos como  Vila de Abrantes, no município de Camaçari, e morreu no dia 20 de janeiro de 1568, na Capitania do Rio de Janeiro. 


Duzentos e dez anos depois da fundação das primeiras escolas e colégios no Brasil, em 1759, os jesuítas foram expulsos de Portugal e de suas colônias, inclusive do Brasil, deixaram como legado 17 colégios, e algumas escolas de primeiras letras. Entre os 17 colégios estava o Colégio do Aldeamento do Espírito Santo (Vila de Abrantes), um dos marcos de fundação de Camaçari. 


Diego de Jesus Copque diegokopke@gmail.com é professor, historiador, pesquisador da História de Camaçari desde 2001. É autor do livro em edição: "Do Joanes ao Jacuípe, uma história de muitas querelas, tensões e disputas locais"

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