O setor de turismo já soma perdas de R$ 122 bilhões entre março e junho. Segundo cálculo da Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), o montante é equivalente a mais de três meses de faturamento do setor, estimado em R$ 40 bilhões. A CNC avalia que pode levar até 2023 para que o setor retome o nível de receitas de 2019, antes da pandemia do coronavírus. Estudo da FGV de junho, por sua vez, calcula que o setor pode retomar o nível anterior à pandemia no verão de 2022, mas levaria até o fim de 2025 para recuperar as perdas acumuladas no biênio de 2020 e 2021.
Somente em junho, a CNC estima que o setor de turismo tenha somado perdas de R$ 34,2 bilhões, após deixar de faturar R$ 37,5 bilhões em maio, R$ 36,9 bilhões em abril e R$ 13,4 bilhões em março. "O setor está operando hoje com cerca de 15% de sua capacidade”, observa Fabio Bentes, economista da CNC.
Bentes destaca ainda que o segmento de alojamento e alimentação, diretamente ligado ao turismo, é o que apresenta a maior perda relativa de empregos com carteira assinada no ano, com queda de 13% no estoque de pessoas ocupadas e mais de 256 mil vagas fechadas até maio. Em seguida, está o segmento de artes, cultura, esporte e recreação, com recuo de 8% no estoque de empregos, segundo o Caged (cadastro do Ministério da Economia de empregos com carteira no país).
Ainda segundo a CNC, a recuperação do setor será impactada pela revisão de protocolos de transporte e hospedagem de turistas. Além disso, a perda de emprego e renda no país deve afetar a demanda por viagens, posto que o turismo é uma atividade de caráter não essencial. “Mesmo para quem está empregado, há um efeito psicológico, o sujeito não vai assumir uma dívida de 12 meses por um pacote turístico, quando está vendo muitas pessoas perdendo o emprego”, afirma o economista.
Em estudo divulgado em junho, a FGV estimou que o PIB do setor de turismo deve registrar uma queda de 46,9% em 2020, em relação a 2019, para R$ 143,8 bilhões. Em 2021, o PIB do setor é projetado em R$ 236,5 bilhões, ainda 12,6% abaixo do nível anterior à crise. Com isso, pela metodologia da FGV, a perda em dois anos é estimada em R$ 161,3 bilhões. O setor voltaria ao nível de produção pré-crise somente no verão de 2022, mas levaria até 2025 para recuperar a perda econômica causada pela pandemia.
Nesta semana, a CVC, maior operadora de viagens e turismo do país, informou em fato relevante à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), que estima perdas de R$ 756 milhões durante o primeiro semestre do ano, sob impacto da pandemia. Entre essas perdas estão gastos com aquisição de empresas, cancelamentos e reembolsos, serviços contratados e não realizados, inadimplência, repatriação de passageiros, entre outros.
A empresa também alertou que pode ter novas perdas à frente, pois possui um saldo de R$ 380 milhões em bilhetes aéreos já pagos, que poderão resultar em prejuízo, caso alguma empresa aérea encerre suas operações sem honrar ou transferir essas passagens a outra companhia. No mesmo comunicado, a CVC atualizou a expectativa de perda por um problema contábil, de R$ 250 milhões para R$ 350 milhões, dos quais a empresa espera reaver R$ 55 milhões em tributos pagos indevidamente. Folha de São Paulo