O Brasil tem cerca de 11,5 milhões de brasileiros que moram em casas superlotadas, com mais de três pessoas por dormitório. O número é de 2018, da mais recente Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 9Pnad Contínua) do IBGE. Isso significa que quase 6% da população vive em ambientes abarrotados que tornam quase impossível o tal isolamento social, tratado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma das principais ferramentas para conter o novo coronavírus.
Os cômodos cheios são uma realidade mais comum entre os pretos e pardos (7%) e entre as mulheres solteiras com filhos de até 14 anos. Nesse último recorte, há ainda um abismo entre as chefes de família brancas (8%) e negras (12%).
O problema é maior nas capitais, onde a doença está mais concentrada até agora. As três cidades com o maior número de casos confirmados: São Paulo, Rio de Janeiro e Fortaleza estão entre as com mais habitantes morando em domicílios hiperadensados. A capital paulista acumula um terço dessas pessoas.
Quem ganha em termos proporcionais, porém, é o Norte do país, onde 13% da população vive em locais superocupados. Em Macapá, por exemplo, essa é a condição de nada menos que um quinto dos moradores.
Para Luiz Cesar de Queiroz Ribeiro, coordenador do Observatório das Metrópoles (que reúne 400 pesquisadores no país), o problema do adensamento das moradias tende a piorar ainda mais com a crise do coronavírus e, consequentemente, a crise econômica que virá. “Evidentemente uma estratégia das pessoas vai ser se aglomerar nas casas que já existem, considerando o aumento do desemprego e as pessoas que vivem de rendas que só suprem o hoje”, diz ele, que é professor titular do instituto de pesquisa e planejamento urbano da UFRJ.
Ribeiro destaca ainda a dificuldade de se evitar aglomerações na vizinhança. “Além do adensamento das moradias, tivemos o adensamento da ocupação do solo, com os puxadinhos. O quadro habitacional do Brasil se agravou bastante a partir de 2016, com a crise e a paralisação de programas como o Minha Casa, Minha Vida”, avalia.
Outros números habitacionais dão a dimensão das dificuldades do Brasil em tempos de coronavírus: 6 milhões (3%) não têm banheiro em casa, 31 milhões (15%) não têm abastecimento de água próprio e 42 milhões (20%) não têm acesso à internet no domicílio, pelo computador ou dispositivo móvel, segundo a PNAD de 2018. Folha de São Paulo