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Novos satelites ameaçam pesquisas e observações do espaço


O mundo da astronomia entrou em estado de alerta devido aos planos da empresa aeroespacial SpaceX, fundada pelo bilionário Elon Musk, de colocar em órbita uma constelação de cerca de 12 mil satélites antes de 2030. O projeto, batizado de Starlink, permitirá conexões da Internet em praticamente qualquer ponto do planeta, mas também poderá alterar irremediavelmente a visão das estrelas para toda a humanidade.
Existem hoje cerca de 18 mil objetos de mais de 10 centímetros orbitando a Terra. 


Desse total, 2 mil são satélites em funcionamento e o resto é lixo espacial.Esses outros cerca de 16 mil artefatos são satélites desativados, sucatas de foguetes e fragmentos procedentes de colisões e acidentes. De todos esses conjunto de lixo espacial, apenas cerca de 200 podem ser observados a olho nu.

Os planos de Musk significariam quase duplicar o número de objetos na órbita baixa da Terra, onde “habitam” a Estação Espacial Internacional (ISS) e o telescópio espacial Hubble. Outras empresas, como Amazon, Telesat e Oneweb já anunciaram sua intenção de criar constelações similares, cada uma delas formada por milhares de satélites. Portanto, é possível que dentro de 10 anos vejamos no céu noturno mais satélites artificiais do que estrelas.


A SpaceX deu o primeiro passo ao lançar em maio passado os primeiros 60 satélites a bordo do foguete Falcon 9, de fabricação própria. Cada satélite pesa 227 quilos e conta com um painel solar que carrega as baterias, mas que também pode refletir a luz do Sul para a Terra. Dependendo do ângulo de incidência da luz solar, durante alguns instantes o brilho dos satélites poderia superar o de qualquer outra estrela do firmamento. Embora os planos da SpaceX não sejam secretos, pouco depois do lançamento começou a soar o alarme entre os aficionados da astronomia e os astrônomos profissionais, à medida que viralizaram vídeos dos satélites cruzando lentamente o céu noturno. Nesse momento, seu brilho era semelhante ao da Estrela Polar.


Os planos de Musk significariam quase duplicar o número de objetos na órbita baixa da Terra, onde “habitam” a Estação Espacial Internacional e o telescópio espacial Hubble. Enquanto a indignação se propagava nas redes sociais, Musk afirmou no Twitter que os satélites só seriam visíveis ao amanhecer e ao entardecer, quando ainda refletiriam a luz solar devido à sua altitude; durante a noite, ficariam ocultos pela sombra da Terra. Musk, contudo, pode estar errado.


“A preocupação é que, em certos momentos do ano, os satélites possam ser vistos durante a noite toda”, explicou ao EL PAÍS o cientista Patrick Seitzer, da Universidade de Michigan (Estados Unidos), um dos principais especialistas em monitoramento do lixo espacial. Segundo Seitzer, os satélites de Musk poderiam ser vistos durante toda a noite em algumas ocasiões, dependendo da geometria de sua órbita e da posição do Sol em relação à Terra. “No Hemisfério Norte, entre maio e junho, podemos ver a Estação Espacial Internacional passar quatro ou cinco vezes por noite, não só durante o crepúsculo”, afirma. “A ISS é um satélite numa órbita. Se houvesse outros 10.000 ou 15.000... bem, você entende por que estamos preocupados.”


Membro da Sociedade Astronômica Americana (AAS), Seitzer analisa atualmente essa situação a pedido da SpaceX. “A SpaceX entrou em contato conosco [a AAS] depois do lançamento, por causa das visualizações de satélites muito brilhantes no céu”, explica. Ele ainda não quer antecipar suas conclusões, já que só poderá determinar a visibilidade dos satélites quando terminar a análise. Por enquanto, esses dispositivos vêm perdendo brilho à medida que sobem até sua altitude final de 500 quilômetros, ponto em que só são vistos com o uso de binóculos.


Ainda assim, os satélites da Starlink podem dificultar a astronomia de duas formas. A primeira, mais evidente, é passando na frente dos telescópios. Durante as observações astronômicas, costuma-se utilizar tempos de exposição longos, permitindo que os telescópios absorvam luz durante minutos ou até horas. Assim, é possível ver melhor objetos distantes ou pouco luminosos. Se um satélite passa na frente justo nesse momento, o que aparece na imagem é uma linha brilhante, tal como os faróis de um carro numa foto noturna. E se isso acontece, o mais comum é que a imagem fique inutilizada para uso científico e que a observação tenha de ser refeita, o que aumenta os custos e nem sempre é possível.

Os telescópios mais sensíveis a essas interferências são os que observam grandes porções do céu em cada imagem. Usados para monitorar muitos objetos ao mesmo tempo, eles são úteis para a busca de exoplanetas e a detecção de asteroides próximos da Terra, por exemplo. O maior do mundo desse tipo é o Large Synoptic Survey Telescope (LSST), ainda em construção no norte do Chile, que poderia fotografar a totalidade do céu em períodos de poucas noites. 


Os responsáveis pelo LSST já divulgaram nota expressando sua preocupação. Estimam que praticamente todas as imagens que fizerem nas primeiras e nas últimas horas de cada noite conterão pelo menos um satélite da Starlink. Felizmente, disseram que possuem mecanismos automáticos que podem descartar os pixels poluídos sem perder toda a imagem. Por isso, afirmam, a Starlink para eles não será mais do que um “incômodo”. Mas avisam que outros telescópios não terão a mesma sorte.


O segundo tipo de problema é mais difícil de avaliar e controlar. Trata-se da poluição eletromagnética que esses satélites produzirão ao emitir ondas de rádio para se comunicar entre si e enviar o sinal da Internet à Terra. Essas ondas poderiam interferir nos radiotelescópios, grades antenas que captam os sinais de rádio que chegam do cosmo até nós. Um exemplo desses aparelhos é o telescópio IRAM Pico Veleta em Sierra Nevada, Granada (Espanha), uma grande antena de 30 metros integrante da rede global que obteve a primeira imagem de um buraco negro, publicada em abril de 2019. Como os radiotelescópios são muito sensíveis à poluição eletromagnética, procura-se construí-los em regiões isoladas, longe de qualquer tecnologia humana. A Starlink ameaça a existência dessas “zonas tranquilas”, já que os satélites darão cobertura a todo o planeta.


O Observatório Nacional de Radioastronomia dos EUA (NRAO) anunciou que já colabora com a SpaceX para tentar mitigar o possível impacto na radioastronomia. Entre as soluções em estudo, incluem-se a criação de “zonas de exclusão” onde os satélites deixariam de emitir e a não utilização das frequências mais interessantes para os cientistas.


Se as constelações de satélites forem desenvolvidas sem controle, poderão ocupar frequências ainda não utilizadas para a pesquisa, mas que seriam exploradas à medida que surgissem novos instrumentos. “Na prática, corremos o risco de que essas constelações preencham janelas de observação que não poderão ser exploradas no futuro”, explicou o pesquisador José Luis Gómez, do Instituto de Astrofísica da Andaluzia (IAA). Segundo Gómez, a situação deveria ser discutida entre as empresas interessadas e a União Astronômica Internacional (IAU), principal associação mundial de astrônomos. El País

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