Criminosos ligados à facção criminosa PCC criaram, na estrutura da organização, um setor destinado só para buscar formas de bular a fiscalização em presídios com a entrega de celulares a criminosos confinados. Entre as estratégias usadas pela facção está o recrutamento de mulheres com algum tipo de prótese ou órtese (como pinos no corpo) e até gestantes que seriam isentas de revistas por equipamentos eletrônicos. Essa estrutura criada pelo PCC é chamada na facção de “Setor do Embrulho”.
A cooptação de pessoas com próteses e órteses foi notada pela Polícia Civil de São Paulo durante a operação Echelon, quando foi interceptada a conversa de um preso de Pacaembu (SP) com uma mulher que seria desse setor. Na ligação, o homem reclamava da dificuldade da entrada de celulares depois da implantação de escâneres para revistar as visitas. Estava tão complicado, reclamava o preso, que na cela em que estava havia “só quatro telefones”.
A mulher, então, apresenta a solução. Diz ter arrumado uma amiga com “pino e platina” implantados no corpo. Nessas condições, garantia a interlocutora, a visita “não passaria pelo escâner e entraria com o aparelho celular.”
Em outra ligação de criminosos flagrada pela polícia, um homem ensina a uma mulher o serviço dela no setor. Pede para que anote um modo de empacotar um celular capaz de burlar equipamentos. “Aí vem com a fita 3M em cima, uma camada, lacra com 3M inteirinha, aí depois vem com três carbonos de um lado e três carbonos de outro, no meio do carbono cê joga um pouco de pó de grafite também, entendeu?”, diz ele. Ela responde: “Calma aí, calma aí, calma aí eu to na parte do Super Bonder ainda, Super Bonder faz uma caixinha, aí passa o quê? A fita 3M?”
O relatório da polícia diz que a facção se esforça para colocar celulares na prisão porque há necessidade vital em seu uso. “A comunicação constitui espinha dorsal para a sobrevivência da organização criminosa, controle da massa e perpetração de crimes em série”, diz trecho do documento da operação Echelon. A operação teve início com apreensão de bilhetes que chefões do PCC presos em Presidente Venceslau tentavam mandar a subordinados.
Os papéis foram dispensados pelos bandidos pela descarga do banheiro, durante as revistas nas celas, sem saber que agentes penitenciários colocaram redes no sistema de esgoto para “pescar”os papéis. A investigação foi concluída em junho deste ano, e resultou na denúncia pelo Ministério Público de SP contra 75 pessoas em todo o país.