O juiz Marcelo Bretas não vê outro caminho senão a “pena de morte política” para políticos. Para o responsável pela Operação Lava Jato no Rio de Janeiro, não deve existir perdão. “Políticos e administradores corruptos não podem ter segunda chance; se ficar provado, acabou”, disse Bretas. “Pra mim, aquela pessoa morreu, é como se fosse uma pena de morte política” completou durante participação em mesa de debate, sexta-feira (27/7), na Feira Literária de Parary (Flip).
Indagado se a legislação atual, que prevê oito anos de afastamento, não resolve esse problema, Bretas afirmou: “Isso é bom, mas não resolve”. Segundo ele, se fosse adotada essa “pena de morte política”, no futuro, quando houver alguém interessado em ingressar na atividade política com más intenções, vai pensar um pouco mais.
O juiz disse temer que a eleição presidencial interfira com o andamento da Lava Jato. “O presidente da República indica os ministros do Supremo e, a depender das pessoas indicadas, agentes políticos envolvidos na investigação podem se sentir mais, ou menos tranquilos”, afirmou. “Tirando uma decisão envolvendo a manutenção da prisão de um senador (Aécio Neves), a plenária do STF sempre apoiou a continuidade das investigações. Refirmo-me à plenária, não a casos julgados individualmente.”
Bretas negou politização da operação. “Precisamos praticar a justiça sem olhar para quem está do outro lado, é disso que o Brasil está precisando, o juiz não é inimigo de ninguém”. O juiz também defendeu o uso das delações premiadas pelo Judiciário, afirmando que as críticas vêm de “profissionais pagos para defender interesses dos acusados’. O magistrado afirmou estar sendo procurado por muitos acusados que dizem querer fazer delação e devolver dinheiro proveniente de operações ilegais. “Que eu saiba não tem nenhum acusado dizendo que foi coagido, que o MP o forçou a se ajoelhar no milho atrás da porta e não aguentou de saudades da esposa e resolveu colaborar”, disse.
Em relação à influência da pressão popular sobre as decisões dos juízes, Bretas ponderou: “O juiz não tem que decidir de acordo com a vontade popular, mas o Judiciário deve priorizar os assuntos que a sociedade quer que sejam prioridade”, disse. “Já vi autoridades dizendo que combate à corrupção não deve ser prioridade, mas não é assim. A sociedade quer que seja priorizado.”
O magistrado afirmou que um juiz precisa tomar muito cuidado em relação a sua imagem, no caso de empresários ou políticos quererem tirar fotos, por exemplo. ”Carrego a imagem do Estado, minha função não deixar que alguém use minha imagem para se promover.”
O juiz defendeu o uso do Twitter por autoridades, embora tenha afirmado ter errado ao usar a ferramenta. “Eu me arrependo daquele Twitter, foi bola fora” , disse, referindo-se a seu comentário sobre as críticas recebidas por causa de uma ação que moveu na Justiça pedindo que tanto ele quanto a mulher, também juíza, recebessem auxílio-moradia —uma resolução do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) proíbe o pagamento do benefício a casais que morem sob o mesmo teto.