Brasil é um dos 5 países que mais vende terra para estrangeiros. O levantamento que mostra números sobre essa ocupação é da socióloga holandesa-americana Saskia Sassen. De acordo com a professora da Universidade de Columbia e da London School of Economics, uma das principais pensadoras sobre o tema, que abroda a questão do novo mercado global de terras, de forma mais ampla no livro 'Expulsões', entre 2000 a 2015, 42,2 milhões de hectares foram negociados em todo o mundo por empresas estrangeiras, sobretudo no Sul global.
Desse total, 26,7 milhões de hectares foram efetivamente comprados em um total de 1.004 transações nos 15 anos cobertos pelo relatório. O Brasil está entre os cinco países com maior área envolvida nessas transações, junto com a Rússia, Indonésia, Ucrânia e Papua-Nova Guiné. Somadas, as áreas negociadas pelos cinco países representam 46% das compras de terra arável levantadas pela plataforma Land Matrix, que monitora grandes aquisições de terras.
No Brasil, o Mato Grosso e a região chamada de Matopiba são as regiões preferenciais de grandes aquisições, de acordo com Márcio Perin, coordenador da área de Terras da consultoria Informa Economics IEG/FNP, referência na análise dos preços e transações de terra no país. A região de cerrado, chamada assim pela junção das iniciais dos estados do Maranhão, o Tocantins, o Piauí e a Bahia, é considerada a última fronteira agrícola do país. A Matopiba foi delimitada pela Embrapa e o Incra como alvo de um projeto de desenvolvimento agropecuário defendido pela senadora Kátia Abreu (PSD-TO) junto à presidenta Dilma Rousseff, que assinou o Decreto 8.847, de maio de 2015, estabelecendo formalmente o Projeto Matopiba.
A região reúne unidades de conservação, terras indígenas e comunidades tradicionais do cerrado afetadas pela valorização das terras e pela agricultura de larga escala. O processo de especulação de terras e de expansão do agronegócio na região, bem como a violação de direitos humanos decorrente desse choque, veio à luz em um relatório produzido pela Rede Social de Justiça e Direitos Humanos, divulgado em fevereiro deste ano.
A alta do preço dos alimentos e a crise financeira global de 2008 estão entre os fatores apontados por especialistas para a busca por terras em países do Sul. “Isso está relacionado à crise dos preços dos alimentos em 2007 e 2008 e à crise financeira internacional, que começou pouco depois”, disse em entrevista à Pública. “A crise do preço dos alimentos encorajou países ricos e dependentes de importações de alimentos a incentivar suas empresas a adquirir terra em outros continentes para produzir comida.
A crise de 2008 motivou players do mercado financeiro a buscar a terra como uma alternativa mais segura para destinar seu capital diante da volatilidade do mercado de ações”, explicou. Dados da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) mostra que o preço dos cereais triplicou entre 2000 e 2008. El País