Depois de 16 anos de portas fechadas e 3 anos de uma restauração que custou R$ 11,3 milhões, a igreja do Santíssimo Sacramento da Rua do Passo, no Centro Histórico de Salvador, será reaberta aos fiéis nesta segunda-feira (5/2). Construído no século 18 numa colina entre Pelourinho ao Santo Antônio Além do Carmo, o Passo é considerado um dos templos católicos mais importantes da Bahia.
Tombada como patrimônio histórico desde 1938, igreja ficou mundialmente conhecida pelao filme O Pagador de Promessas, produzido pelo cineasta Anselmo Duarte, a partir do texto do baiano Dias Gomes. Filme premiado em Cannes e feito nos anos 1960 conta a história do beato Zé do Burro que enfrenta a ira dos religiosos e a esperteza dos malandros, enquanto tenta cumprir a promessa de levar até o altar uma cruz de madeira que trouxe nos ombros ao longo de sete léguas de penitência.
Localizada de frente a famosa Escadaria do Paço, cenário do filme, igreja foi totalmente restaurada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O prejuízo com o abandono foi grande. "Muito se perdeu. A igreja foi abandonada e acabou sendo alvo de saques e roubos", afirma Luís Alberto Freire, professor da Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia, que fez pesquisas sobre a igreja.
Construída no topo de uma ladeira e tendo aos fundos um grande precipício, a obra demandou um crucial trabalho de contenção de encostas –foram instalados 22 tirantes de aço para sustentar o templo. Imagens sacras e azulejos portugueses pintados à mão, datados do século 18, tiveram que ser recuperados um a um. A cúpula da igreja, pintada em perspectiva ilusionista barroca, foi totalmente refeita. Folhas de ouro foram trazidas da Itália para fazer o processo de douramento das peças que ornam a Igreja. "Foi um obra de logística complexa porque envolveu, ao mesmo tempo, obras estruturais e a restauração de peças extremamente delicadas", diz Bruno Tavares, superintendente do Iphan na Bahia.
O principal desafio da igreja do Passo, contudo, será recuperar os fiéis numa área de Salvador em que há uma igreja histórica em cada esquina. Para isso, o envolvimento da comunidade será crucial. "Queremos uma igreja aberta para todos que queiram entrar e somar", diz o irmão Jorge Mendes, da Fraternidade Samaritana Beneditina, responsável pela igreja. As missas serão retomadas, inicialmente às quintas-feiras e aos domingos. Mas a ideia é que tanto a igreja como as escadarias se firmem como um polo cultural do Centro Histórico de Salvador.