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Sócrates Torres


Do esgotamento à esperança



A corrida eleitoral em Camaçari já está a todo vapor, se é que houve alguma trégua depois da última eleição. Os grupos polarizados estão nas ruas, nos eventos, nas redes sociais, nos bares ou qualquer esquina da cidade. As turmas “vermelhas” e “azuis’ lembram aquelas gincanas de programas de auditório. Vivem disputando cada espaço de poder, cada fatia do eleitorado, mas não se mostram preocupados em conquistar corações e mentes dos munícipes que não pertencem a esses grupos. Inclusive com trocas entre “adversários” que “aderem” a “projetos” dos rivais.


Enquanto isso, a população que não faz parte diretamente desse jogo de interesses fica à míngua. Alguns, tentando sobreviver em meio ao caos nos serviços públicos, na segurança pública, nos empregos cada vez mais escassos, salvo para os operadores dos grupos, que disputam cargos públicos, nomeações, nem sempre precisando prestar os serviços que deveriam à essa população que vive à margem desses privilégios. O povo, que não tem uma “liderança” para os representar e serem gados, sequer consegue uma fatia de pão nos cafés das manhãs das campanhas.


Em Camaçari, enquanto por um lado temos a situação, que apesar de ter um prefeito eleito legitimamente e legalmente no último pleito, (legalmente, pois teve mais votos que o seu adversário, legitimamente por sua expressiva e acachapante vitória) mesmo assim, precisa lidar com supostos colaboradores que subliminarmente cogitam pré-candidaturas à cadeira de alcaide, mesmo com o atual mandatário sendo o natural candidato à reeleição. Além disso, o desgaste através de diversas reclamações, algumas corriqueiras, fomentadas e exageradas pela oposição, assim como muitas que vem da qualidade do serviços público, a presença maciça de pessoas de fora da cidade que mandam, mas não gastam seus salários e tampouco possuem o mínimo amor por Camaçari.


Por outro lado, uma oposição provinciana. Essa que apesar de estar situada no hoje maior partido político da América Latina, em uma das cidades mais ricas do Norte/Nordeste, com a envergadura de importância  nacional, mas que se comporta como se fosse um partidinho do “interior” do Brasil, nos tempos dos coronéis. Sim, pois no município de Camaçari esse partido tem donos, esses que se empurram candidaturas goela abaixo dos seus correligionários, mesmo aqueles com longínquos e repetidos mandatos, participação orgânica, imaginem o que poderia impor à população menos politizada, sem participação nos bastidores políticos, mas apenas como votantes no dia da eleição. O povo sendo tratado como gado.


Na conjuntura nacional, o “grupo azul”, que está no poder, está alinhado com que há de mais retrógrado. Não apenas na cena nacional, mas com a vergonha internacional que se tornou o governo federal, apoiado por esse grupo. Vergonha que se reflete na falta investimento na economia, na ausência de credibilidade no País, insegurança jurídica, o que afeta sobremaneira a nossa Camaçari. Ainda. Cortes em direitos adquiridos, nos recursos para a educação, saúde, desmatamento na Amazônia, além das asneiras proferidas diariamente pelo mandatário da Nação, sua família envolvida no crime organizado, seus ministros “lesa pátrias”, tudo isso pesa na conta dos que os apoiaram e seguem apoiando em detrimento do sofrimento do povo.


Por sua vez, a oposição, mesmo com a bandeira do “Lula Livre!”, não consegue surfar na onda externa que pede a soltura do ex-presidente. Aliás, parece que essa é única proposta pelo “grupo vermelho”. Não há projeto de Cidade. Ainda mais para quem já teve nas mãos muitas chances de demonstrar que sabe gerir, administrar seriamente, mas que apenas confirma a máxima de que apenas sabe fazer oposição, mas que uma vez com “caneta na mão” não passa de “mais do mesmo”. E é justamente esse “mais do mesmo” que a população de Camaçari não suporta mais. Precisamos mudar.


O dia do desfile cívico, no aniversário da cidade, demonstrou claramente o esgotamento dos dois modelos. Picuinhas, expedientes de boicotes e infantis medições de forças pautaram o que poderia ser um dia de confronto de ideias, propostas, posturas. Mas, além dos crimes eleitorais cometidos em massa pelos adversários (tudo devidamente registrado por muita gente), com camisas padronizadas, utilização das máquinas públicas, podemos observar naquele dia a amostragem desse esgotamento que a população tanto fala. Tanto os candidatos, quantos os supostos eleitores demonstram um cansaço, uma fadiga que reflete diretamente no ânimo do povo. Essa fadiga que pode ser o ponto de partida para rupturas necessárias em Camaçari.


Correndo por fora, outros mais por fora ainda, presenciamos as chamadas “candidaturas de engorda”. As mesmas práticas de uma velha política dos pré-candidatos que fazem seus “balões de ensaio” para valorizar seus passes para uma possível negociação, “lá na frente”. Muitas vezes, o mesmo de sempre, dentro e fora dos grupos “azul” e “vermelho”, assim como os que posam como salvadores da pátria, uma tal “terceira via”, mas que não passam de velhas figuras conhecidas que estão insatisfeitas pessoalmente com ambos os grupos, ou até sem espaço mesmo, mas que não possuem compromisso nenhum com uma cidade melhor, mais justa.


E assim vai se costurando a política em Camaçari. Um lado que acha que não sairá do poder nunca, outro lado que tem certeza que voltará logo a dar as cartas no município, os que negociam suas candidaturas, partidos, dignidade, caráter e o povo que, órfão de quem os represente, mesmo assim ainda carrega a esperança de dias melhores. Dias esses que não serão realizados por nenhum dos grupos hegemônicos, com cores definidas nas camisas, mas que não possuem o brilho nos olhos e a confiança necessária para que o a população possa voltar a acreditar numa classe política que não se renovou, que segue com as mesmas práticas e pessoas, mas que dizem que vão fazer algo diferente.


O povo está atento e ciente de tudo o que se passa. Mais que isso, sente na pele os reflexos de anos e anos de uma alternância infrutífera na administração municipal. Essa população, hoje muito mais escolarizada, politizada, já não aceita as opções que lhe são impostas. Estão buscando soluções, não de salvadores da pátria, mas de projetos de cidades em que todos sejam protagonistas, não apenas para eleger representantes, mas para participarem diretamente nas decisões e ações do governo. Quem viver verá... 


Sócrates Magno Torres socratesri@yahoo.com.br é especialista em educação, ex-secretário municipal e atualmente mora em São Paulo


Opiniões e conceitos expressos nos artigos são de responsabilidade do autor


 
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